Para MP, pandemia atrasa marcação das audiências dos presos em SP. Pasta da Segurança informa que irá incluir nomes de foragidos em site de criminosos procurados. Membros de facção são acusados de sequestrar, torturar e matar soldado em agosto de 2018. PM Juliane Duarte foi morta por criminosos de facção após se identificar como policial na favela de Paraisópolis, em agosto de 2018 em São Paulo
Reprodução/TV Globo
Após dois anos, o caso do sequestro, tortura e execução da policial militar Juliane dos Santos Duarte segue sem que a Justiça de São Paulo tenha ouvido os quatro réus presos acusados dos crimes. E também continua com os três réus foragidos acusados do assassinato fora da lista de criminosos mais procurados da Polícia Civil.
Os crimes contra a soldado da Polícia Militar (PM) ocorreram entre os dias 2 a 6 de agosto de 2018, na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul da capital. Todos os sete réus são acusados de integrar o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas.
O que dizem
PM Juliane tinha 27 anos e estava à paisana quando foi morta por integrantes de facção criminosa em comunidade da Zona Sul de São Paulo
Divulgação/Arquivo pessoal
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ) informou que não se pronunciaria a respeito da demora na marcação da audiência de instrução do caso porque o processo segue sob sigilo.
“Esse processo tramita em segredo de Justiça, dessa forma, não temos informações disponíveis”, informa comunicado da assessoria do TJ.
De acordo com o Ministério Público (MP), a demora em marcar a audiência se deve à pandemia de coronavírus. A audiência é importante porque é uma das etapas do processo nas quais, por exemplo, a Justiça ouve a acusação, defesa e testemunhas e interroga os réus. Posteriormente, o juiz decide se leva os acusados a julgamento pelos crimes. Nesse caso, marcaria a data do júri popular.
“Por enquanto estamos na mesma. Aguardando a designação de audiência dos réus presos e o processo está suspenso em relação aos foragidos. Já deveríamos ter tido a instrução, mas a pandemia atrasou tudo”, disse o promotor Fernando Cesar Bolque.
Questionada pela reportagem sobre o fato de que os três réus foragidos acusados de matar a PM Juliane ainda não tiveram os nomes e fotos divulgados no site de procurados da Polícia Civil, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo respondeu, por meio da assessoria de imprensa, que o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso, estuda a inclusão deles na lista.
“Os outros três autores citados são procurados pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que está adotando as medidas para a inserção dos dados no banco de ‘Procurados’ da Polícia Civil”, informa trecho da nota da comunicação da pasta da Segurança.
Como a lista de criminosos mais procurados da polícia de São Paulo é pública, a divulgação das identidades dos procurados ajudaria a população a tentar identificar os foragidos acusados de participar da morte de Juliane. A lista tem telefones para fazer denúncias sem que seja preciso se identificar. Mas até a publicação da reportagem isso ainda não havia sido feito.
Os foragidos são três homens. E os réus presos são uma mulher e três homens. Todos são acusados de cárcere privado, tortura e assassinato da soldado da PM. Eles também respondem por associação criminosa (veja mais abaixo quem são).
Desaparecida e morta
Polícia Militar isola área onde corpo foi encontrado em carro na Zona Sul de SP
Bruno Tavares/TV Globo
Juliane tinha 27 anos quando foi encontrada baleada em 6 agosto de 2018. O corpo foi achado dentro de um carro abandonado no Bairro Campo Grande, na Zona Sul de São Paulo..
A mulher ficou desaparecida por quatro dias, depois de ir de moto a um bar na comunidade, durante a sua folga, para comemorar o aniversário do filho de um casal de amigos. Ela estava à paisana.
Segundo o Ministério Público (MP), Juliane foi morta por ordem do Primeiro Comando da Capital (PCC) após se identificar como soldado da PM no bar, depois de relatarem o sumiço de um celular no local.
Suspeito de envolvimento em morte de PM desaparecida em Paraisópolis é preso em SP
Reprodução TV Globo
Os 7 acusados
Os quatro acusados que permanecem presos são:
Felipe Carlos Santos de Macedo (Pururuca)
Eliane Cristina Oliveira Figueiredo (Neguinha)
Everaldo Severino da Silva Felix (Sem Fronteira)
Felipe Oliveira da Silva (Tirulipa)
Os três réus que seguem foragidos são:
Ricardo Vieira Diniz (Boy)
Everton Guimarães Mayer (Tom)
Luiz Henrique de Souza Santos (Tufão ou Luizinho)
Polícia prende mulher conhecida como “neguinha”
Facção criminosa
Os sete réus são acusados de homicídio triplamente qualificado por motivo torpe com utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Os seis homens e a mulher também são acusados de cárcere privado e tortura, além de associação criminosa por pertencerem ao PCC, facção que atua no estado.
O G1 não conseguiu localizar as defesas dos réus para comentarem o assunto.
Corpo da policial militar que tinha desaparecido em Paraisópolis será enterrado no ABC
O crime
O caso foi investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa da Polícia Civil que apurou o seguinte:
Juliane havia desaparecido em 2 de agosto de 2018 após ir de moto a um bar, na Rua Melchior Giola, na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo. Ela estava à paisana. Tinha ido ao local comemorar o nascimento do filho de um casal de amigos.
Segundo testemunhas, num dado momento, alguém perdeu um celular e ela se identificou como policial, colocando sua arma sobre a mesa e dizendo que ninguém sairia do bar até o aparelho aparecer. Isso chamou a atenção de criminosos no local.
Corpo foi encontrado dentro de um carro na Zona Sul de SP
Bruno Tavares/TV Globo
Quatro criminosos, todos encapuzados e armados abordaram Juliane. O corpo dela foi encontrado no dia 6 de agosto do ano passado com dois tiros na virilha e um disparo na cabeça, dentro do porta malas de um carro na Rua Cristalino Rolim de Freitas, no Bairro Campo Grande, na Zona Sul de São Paulo.
Moto da policial militar desaparecida na comunidade de Paraisópolis
Reprodução/TV Globo
A moto dela foi encontrada depois. Câmera de segurança gravou um dos acusados abandonando o veículo, e isso ajudou a localizar os demais envolvidos no crime e um dos homens que levaram a PM de um bar.
Vídeo mostra homem deixando moto de PM desaparecida em SP
Mapa indica pontos em que PM desapareceu e foi encontrada morta em SP
Roberta Jaworski/G1
Initial plugin text
2 anos após morte da PM Juliane, Justiça ainda não ouviu 4 réus presos e três foragidos estão fora da lista de procurados da polícia
