G1 conversou com representantes de empresas do setor e também ouviu relatos de pessoas que perderam familiares durante a pandemia. Normas sanitárias de segurança são seguidas à risca. Funerárias sofreram mudanças devido à pandemia
Aline Costa/G1
Para garantir mais segurança aos familiares na hora de se despedir de um ente querido no período da pandemia do novo coronavírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu regras que alteraram rotinas e fizeram com que funerárias adotassem novas medidas para a execução dos serviços prestados.
A pandemia da Covid-19 mexeu com o funcionamento de diversos estabelecimentos em Presidente Prudente (SP). Escolas, academias e restaurantes até tiveram suas atividades suspensas. As saídas para a rua passaram a ser restringidas e também houve mudanças no setor funerário. Todas as modificações com um único intuito: evitar aglomerações, para conter a proliferação do vírus.
Impactos
Desde que a OMS declarou que o surto do novo coronavírus era uma emergência de saúde pública, a Funerária Athia procurou acompanhar os impactos no serviço funerário, conforme contou ao G1 a Assessoria de Imprensa da empresa.
A preocupação principal da funerária, conforme a assessoria, era complementar o Procedimento Operacional Padrão (POP) para atendimento no contexto da Covid-19, com procedimentos adequados nos casos confirmados e suspeitos da doença.
“Quando a doença foi classificada como pandemia, nós já havíamos incrementado nossos EPIs [Equipamentos de Proteção Individual], com macacões para a proteção dos agentes funerários. Além disso, adotamos medidas em nossa casa de velório, como abolir o ar-condicionado e utilizar ventilação natural, disponibilizar álcool em gel em todas as dependências e minimizar a concentração de pessoas, que era tão característica dos velórios até então”, explicou a assessoria ao G1.
Funerárias sofreram mudanças devido à pandemia
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A assessoria também explicou ao G1 que a empresa se adequou ao decreto municipal estabelecido pela Prefeitura, que fez determinações, como o fechamento de casas de velórios das 22h às 7h, redução de velórios à duração máxima de quatro horas e a limitação de 10 pessoas simultâneas em velórios e sepultamentos, obedecendo distância mínima de um metro.
“Nas demais cidades, atendemos às respectivas determinações municipais”, acrescentou.
De acordo com a assessoria, a funerária possui todos os EPIs recomendados pela OMS, que foram destinados aos colaboradores. Além disso, os funcionários também receberam treinamento englobando os cuidados e os protocolos referente às diversas funções, como atendimento funeral, agentes funerários e equipes de suporte e limpeza.
“Nesse período de pandemia, para minimizar o impacto que as mudanças nos ritos funerários causam nos familiares, nós estamos disponibilizando, sem custos, música ao vivo em todos os sepultamentos. As pessoas ficam ainda mais tristes por não poderem velar e sepultar seus entes queridos como ocorria anteriormente, então levamos a música como uma forma de conforto, e estamos gratificados com a resposta positiva do público a esse gesto”, contou a empresa ao G1.
Atenção redobrada
O trabalho sempre foi feito de acordo com as normas da Vigilância Sanitária na Funerária Prudentina, como contou ao G1 o proprietário Junior Maggioni El Kadri. Os funcionários usam todos os EPIs necessários em relação aos falecimentos e utilizam produtos químicos de conservação de acordo com a causa da morte descrita na declaração de óbito.
“Durante a situação de pandemia, qualquer corpo, independentemente da causa de morte ou da confirmação por exames laboratoriais da infecção por Covid-19, deve ser considerado um portador potencial, desta forma, nós seguimos todas as recomendações”, disse o proprietário.
Funerárias sofreram mudanças devido à pandemia
Aline Costa/G1
Entre as recomendações seguidas pela empresa, como explicou Kadri, estão o uso dos EPIs, luvas de procedimento duplas, roupa resistente a fluidos ou impermeável, avental à prova d’água e óculos largos de proteção ou máscara de proteção, máscaras de proteção e calçados fechados.
“Após uso dos EPIs, os mesmos devem ser dispensados em recipientes apropriados. Os que são reutilizáveis deverão ser limpos e desinfetados de acordo com as instruções dos fabricantes. Após retirada, deve-se fazer higienização adequada das mãos com sabão e água por 40 segundos. Se as mãos não estiverem visivelmente sujas, podemos utilizar substâncias contendo álcool 60% a 95% ou hipoclorito a 1%”, acrescentou o empresário ao G1.
Os corpos de casos positivos ou suspeitos do novo coronavírus têm um tratamento diferenciado.
“Devem ser envolvidos acondicionados em saco impermeável próprio, de lona plástica em polímero biodegradável, de acordo com a política nacional de resíduos, devendo este saco ser limpo e higienizado com desinfetante hospitalar ou substância à base de álcool 60% a 95%. Na sequência, o corpo ensacado será acondicionado na urna funerária lacrada, que será imediatamente lacrada. Os corpos devem ser transportados pelas funerárias sem abertura da urna, nem do saco que envolve o corpo. Em caso de óbito no hospital, deverá este procedimento ser realizado no próprio leito de internação, evitando-se o deslocamento do corpo não protegido até o necrotério. O mesmo deve ser feito no domicílio, casa de repouso ou similar, não devendo em hipótese alguma o corpo ser transportado sem a realização destes procedimentos”, destacou o profissional ao G1.
Nos casos em que não há relação com o coronavírus, segundo Kadri, os procedimentos na funerária são os mesmos de antes.
“Só foi redobrada a atenção na hora da remoção do falecimento no ambiente hospitalar, pois o mesmo é o local onde se encontram os casos de coronavírus em tratamento”, acrescentou.
Funerárias sofreram mudanças devido à pandemia
Aline Costa/G1
As mortes registradas pela funerária em Presidente Prudente entre fevereiro e maio de 2018, 2019 e 2020 sofreram mudanças.
De 2018 para 2019, conforme o proprietário explicou ao G1, aumentou em média 20%. No mesmo período, de 2019 para 2020, foi registrada uma queda de 30%.
“Acreditamos que na variação de um ano ao outro é menor o número de atendimentos pelo fato da quarentena imposta pelo governo, o número de acidentes tem sido menor e as pessoas por ficarem em casa etão se cuidando mais”, ressaltou.
Nos velórios, a pandemia também impôs restrições que precisam ser seguidas à risca.
O empresário disse ao G1 que para os casos de coronavírus confirmados não é autorizado o velório. Para os casos suspeitos, os velórios são realizados com duração de quatro horas no máximo e o número de 10 pessoas é a quantidade máxima permitida na sala, respeitando a distância de dois metros.
“Estão proibidos os velórios das 22h às 7h e sepultamento com no máximo 10 pessoas. A máscara de proteção é uso obrigatório tanto para funcionários como para os familiares.É importante evitar, especialmente, a presença de pessoas que pertençam ao grupo de risco para agravamento da Covid-19, como os idosos, gestantes, lactantes, portadores de doenças crônicas e imunodeprimidos”, falou ao G1.
Despedidas
Juliana com o pai José Carlos
Cedida
Despedir-se de quem se ama, um dos momentos mais dolorosos impostos pela vida, ficou ainda mais difícil com a chegada da pandemia. Mesmo aquelas famílias que não perdem um ente querido para a doença sentem o impacto causado pelo atual momento.
Esse é o caso de Juliana Lilian Donzelli Gomes, moradora de Presidente Prudente, que contou ao G1 que teve de se despedir do pai, José Carlos Donzelli, de 64 anos, que foi a óbito por conta de um infarto recentemente.
“Ficamos com o horário de velório restrito a quatro horas. Conseguimos realizar com todos os cuidados recomendados. Tivemos um tempo razoável para a despedida. O enterro foi o pior momento”, disse.
O luto, segundo Juliana pontuou ao G1, segue sem tempo determinado para o fim.
“Saudade será eterna. A presença não poderá mais ser sentida, mas as lembranças dos momentos vividos são um ótimo conforto. O tempo necessário para toda essa dor ir embora, neste momento tão difícil, é indeterminado. Já sinto muitas saudades”, desabafou Juliana.
Thiago com o pai, que faleceu, e a mãe, que também testou positivo para a Covid-19
Cedida
Perder um ente querido é sempre difícil, em qualquer circunstância, mas no atual momento é ainda pior, falou ao G1 Thiago Alves Flor, que perdeu o pai e a avó materna com uma semana de diferença para a Covid-19.
“Quando tem o velório, o sepultamento como a gente está acostumado, tem o conforto, o apoio das pessoas, dos amigos, dos familiares, isso ameniza um pouco a dor. Agora na atual conjuntura, no atual cenário, foi muito difícil. Não estou nem falando por conta da causa da morte, qualquer que seja hoje a causa da morte, para evitar aglomerações, já reduz a quantidade de pessoas que vão prestar um apoio para a família. É uma coisa muito triste, muito difícil. Só eu, meus irmãos, meus sobrinhos, minhas cunhadas, minha mãe ali naquele momento, foi muito triste, resumidamente, é uma coisa muito fria”, disse Flor.
Seu pai, Luiz Flor, militar e bombeiro em Presidente Prudente, faleceu uma semana antes da avó materna de Thiago, Therezinha Floriana dos Santos Alves.
“Os procedimentos foram de forma bem objetiva. Tem de enterrar em determinado horário. Ficar na porta do cemitério, esperar chegar a viatura da funerária, quando ela entra, a quantidade reduzida de pessoas vai atrás para se despedirem. Não tem o velório. Não pode encostar no caixão, todo manuseio é feito por meio de uma corda e por fim é enterrado. E aí é pra nunca mais”, relembrou Flor ao G1.
Flor ainda contou ao G1 que o fato de não poder se despedir da forma tradicional influencia na aceitação da perda.
“Como a minha família toda estava positivada para a Covid-19, as pessoas não podiam nem irem em casa nos dar um abraço. Ainda estamos vivendo o luto, é muito difícil, principalmente, pra mim. Porque a minha família é toda de Presidente Prudente e eu moro em Brasília. Eles podem apoiar uns aos outros. Eu fico sozinho, não tenho eles, não tenho ninguém. Tem dias que é muito difícil”, relatou.
Flor com a avó que faleceu vítima de coronavírus
Cedida
Ele ainda disse que, mesmo depois de ter contraído o vírus, continua tomando todos os cuidados necessários durante a pandemia.
“Continuamos tomando todos os cuidados, mesmo minha família toda já tendo tido a doença, não tem nada dizendo que isso faz com que se adquira imunidade e não se contraia novamente. Nós que ficamos aqui, que estamos bem, temos de tentar acreditar em alguma coisa positiva, mas sempre seguindo todas as orientações. Seguimos a vida no novo normal, tentando não passar por isso de novo. É algo que não desejo a ninguém”, desabafou Flor ao G1.
Com a experiência vivida, Flor fez um apelo:
“Espero que as pessoas que não levam muito sério, a partir de histórias como a minha, que perdi o pai e a avó em menos de uma semana, passem a dar mais crédito a todo esse problema. Estamos tentando seguir em frente. Tem dias que o choro e a tristeza tomam conta. Vamos tentando viver e aprendendo a conviver com a dor”.
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