Depois de transplante de medula, jovem se recupera da Covid-19


Em fase de acompanhamento, Cátia descobriu, em uma das idas ao hospital, que estava com o novo coronavírus. Número de doadores caiu na pandemia, mas Brasil mantém um dos maiores bancos de cadastro. Jovem faz transplante de medula óssea e testa positivo para o coronavírus
Treinar na academia era algo que a analista fiscal Cátia Pereira Antunes da Silva não conseguia fazer. Em 2018, ela começou a ter alguns sintomas e deu início a uma saga para descobrir o que tinha. Em uma das várias visitas aos médicos, teve o diagnóstico de que precisaria de um transplante de medula óssea. Ela entrou na fila para encontrar um doador e logo de cara descobriu que um dos irmãos era compatível.
Cátia agora está na fase de acompanhamento e, por isso, precisa ir duas vezes por semana ao hospital. Em uma dessas visitas, ela descobriu que estava com o novo coronavírus. Ela não teve sintomas, já se recuperou e conta que está pronta para começar uma nova vida.
“Ver a união da minha família foi maravilhoso. A intimidade que eu passei a ter com meu irmão, que é meu doador. Ele que muitas vezes me levou ao hospital. Isso nos proporcionou ser tão próximo, e hoje eu consigo ter ideia da pessoa incrível que ele é”, diz Cátia.
“Eu olho para meu esposo e vejo que ele poderia não ter passado por isso, porque, quando tudo aconteceu, a gente estava muito recente de relacionamento. Ele poderia ter ido embora, mas não. Ele estava do meu lado o tempo inteiro, sofreu comigo, pegou na minha mão. E até hoje ele está junto. Eu só consigo agradecer e até me emociono. Sou muito grata a Deus e tenho consciência do quanto sou abençoada”.
Rubens Antunes da Silva Neto foi o irmão que doou a medula para Cátia. Ele não esconde que chegou a ficar com receio de fazer o procedimento.
“Me deu um pouco de medo porque o que a gente escuta normalmente é que esses transplantes são um processo dolorido, essas coisas. Só que comecei a conversar com os médicos, e eles me disseram que seria muito tranquilo”, falou o autônomo.
“Eu tenho dois irmãos por parte de pai e mãe. Meu irmão mais novo deu 100% compatível. Aí o liberaram para fazer o transplante. É um menino novo, de 23 anos. Eu ganhei na loteria, porque a chance de um irmão, filho de pai e mãe, ser compatível é de 25%. E a chance de ter alguém compatível quando você vai para o banco é de uma em 100 mil. Então é muito difícil”, comentou Cátia.
Cátia passou por transplante de medula, doada pelo irmão
Reprodução/TV Diário
Queda no número de doadores na pandemia
Por causa da pandemia, o número de novos doadores caiu. No Brasil, a queda foi de 30%. No estado de São Paulo, a redução foi ainda maior. Nos dois primeiros meses da quarentena, o número de cadastros caiu praticamente pela metade.
Mesmo assim, o Brasil ainda mantém um dos maiores bancos de cadastro de doadores voluntários. São mais de 5 milhões de pessoas cadastradas no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME). Quem entra na fila de espera para encontrar um doador costuma aguardar de três a seis meses, mas esse prazo pode variar de caso para caso.
A explicação para isso está na variedade genética encontrada no Brasil. “Existe essa média de três a seis meses, mas oscila, porque, dependendo da sua genética, você pode ter muitos doadores compatíveis, e aí é mais fácil escolher alguém mais rapidamente, como você pode ter um só e ser mais lento, mais difícil, ou você pode não ter. Quando não tem, realmente a gente procura fora do Brasil. Não tendo, você parte para outra estratégia de tratamento. Algumas doenças você não tem tempo de ficar esperando, porque a doença progride. A maior parte das doenças que a gente transplanta é de leucemias agudas”, explica Carmen Vergueiro, hematologista e CEO da Associação da Medula Óssea (Ameo).
Outro reflexo provocado pela pandemia foi na quantidade de transplantes. “O que aconteceu é que em muitos hospitais houve uma redução no número de transplantes para poderem adequar o atendimento a pacientes com Covid. Então, eles pegaram os casos que não eram tão graves, casos em que daria para esperar mais um pouco. Mas sempre você acaba transplantando menos. Como são pacientes graves, muitos podem piorar, a doença pode evoluir e não serem transplantados no tempo certo. Esse é o impacto que acho que causa. Não é tanto o doador de medula, mas sim o fato de termos tido que enxugar a estrutura para atender só emergência.”
De acordo com o coordenador do serviço de transplante do IBCC Oncologia, Roberto Luiz da Silva, a quantidade de procedimentos neste período de quarentena caiu 25%. “Isso, de fato, é muito ruim. Primeiro porque você diminui o trabalho dos profissionais nesse sentido do transplante. E o pior é que esses pacientes que deveriam estar vindo fazer o transplante vêm em um momento pior, então os resultados acabam sendo piores, porque muitos deles atrasam o tratamento, com medo de pegar o Covid, e acabam chegando em uma situação clínica pior do que a situação em que se encontram hoje.”
A estimativa do coordenador é que a situação leve três meses para voltar ao que era antes da pandemia. Para reverter o quadro, hospitais têm intensificado as barreiras de proteção. Trata-se também de uma maneira de incentivar que as pessoas não deixem de procurar um médico quando precisarem.
“A preferência é que o serviço de transplante continue fazendo uma blindagem do serviço na tentativa de proteger esses pacientes para que eles não adquiram a Covid-19 no hospital”.

By Midia ABC

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