Franca, SP, tem o menor quadro de trabalhadores no setor calçadista da história, diz sindicato


São 10.348 funcionários ativos no município, que, há seis anos, apresenta saldo negativo em postos na indústria de calçados. Pandemia de Covid-19 contribui para o cenário. Indústria de calçados em Franca (SP)
Arquivo Cedoc/EPTV
O quadro atual de 10.348 trabalhadores ativos do setor calçadista de Franca (SP) é o menor da série histórica, segundo o Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca (Sindifraca). Entre março e junho de 2020, de acordo com o Ministério do Trabalho, foram fechados 6.235 postos de emprego, com 1.367 admissões contra 7.620 demissões.
Esse período corresponde às restrições impostas pela pandemia de Covid-19, que fechou os serviços considerados não essenciais.
Após a implantação do Plano São Paulo, que organiza em fases a retomada econômica em todo o estado desde junho, Franca só ficou na etapa dois (laranja) por 28 dias, o que possibilitou uma abertura, com restrições, do comércio e de outras atividades.
No entanto, desde 29 de junho, quando foi rebaixada à fase vermelha, a mais restritiva, não saiu mais. Os altos índices de ocupação em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o aumento de casos contribuem para a manutenção da cidade e dos outros 21 municípios do Departamento Regional de Saúde (DRS 8) nesta etapa.
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Queda na produção
Por conta disso, o setor, que há 200 anos atua no município e contribuiu para o título de Capital do Calçado Masculino do Brasil, enfrenta o pior período da história tanto no mercado interno quanto no mercado externo.
Com menos gente no quadro de funcionários, a produção também caiu. Para este ano, por exemplo, a projeção do Sindifranca é a confecção de 19,3 milhões de pares, cinco milhões a menos do que no ano passado.
“Encerramos 2019 com um faturamento de US$ 68,9 milhões e para 2020 não temos expectativa em decorrência da pandemia do coronavírus, em especial nos Estados Unidos. O que podemos esperar é que o resultado das exportações será bem menor que 2019”, diz José Carlos Brigagão do Couto, presidente do Sindifranca.
Presidente do Sindifranca, José Carlos Brigagão do Couto
Igor do Vale/G1
Recuperação a longo prazo
O auge das exportações de calçado em Franca ocorreu em 1993, quando a venda de 15,5 milhões de pares para o exterior alcançou um faturamento de US$ 256,5 milhões de dólares.
Dez anos depois, em 2013, a cidade atingiu o pico de funcionários contratados no setor. No mês de outubro, 30.381 trabalhavam na indústria calçadista, o que possibilitou a produção de 39,5 milhões de pares ao final daquele ano.
Para Brigagão, o município perdeu a cultura exportadora e, para voltar aos patamares de décadas passadas, vai ser preciso se reconstruir.
Com lojas fechadas, estoques estão encalhados em indústrias de calçados de Franca (SP)
Jefferson Severiano Neves/EPTV
Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Polo Calçadista de São Paulo (Franca, Jaú e Birigui) elaborou um projeto de retomada para os empresários e trabalhadores junto ao governo paulista.
“Entendo que para voltarmos aos patamares anteriores de produção, será necessário no mínimo dois anos de recuperação, contando é claro, com apoio da iniciativa pública, com políticas industriais mais claras e de médio e longo prazos”, afirma.
Além disso, na visão do presidente do sindicato, a retomada da normalidade dos mercados em todo o mundo só deve ocorrer após o lançamento da vacina em massa contra a Covid-19 para a população. Até lá, o setor não consegue projetar de quanto vai ser o prejuízo.
“Não temos ideia de quantas indústrias vão conseguir chegar ao final do ano e as que conseguirem, estarão bastante fragilizadas. Apesar desta situação, o setor é forte, tem história e venceu outras crises. O empresário calçadista tem demonstrado ao longo dos anos que é determinado, sobrevivendo há várias crises”, diz.
Saída tecnológica
Adnan Jebailey, economista da Associação do Comércio e Indústria de Franca (Acif), diz que uma das preocupações da entidade está na indústria de calçado, que já vinha fechando postos de trabalho desde 2014, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Ele avalia que o momento é de reestruturação do setor. Para isso, Jebailey acredita que a solução está em agregar mais tecnologia no processo produtivo e também na chegada até o consumidor final.
“A indústria calçadista de Franca é muito dependente da mão de obra. Eu acho que é esse o momento de repensar, utilizar esse filho da pandemia que é a tecnologia, para conseguir reinventar, produzir e voltar ao mercado. Vai ser muito difícil atuar no mercado internacional no pós-pandemia”, analisa.
Brigagão concorda com o economista. Segundo o presidente do sindicato, a atividade sempre agregou e vai agregar muita mão de obra, já que o calçado é um produto artesanal. No entanto, para ele, Franca deverá passar por uma transformação no negócio.
“Teremos de buscar modernização, não só de novas tecnologias de fabricação, em máquinas e equipamentos, mas principalmente em gestão industrial, sistemas informatizados e inteligência artificial. Precisaremos preparar nossos colaboradores para estas novas tecnologias, o que irá atrair mais pessoal especializado e gerar novos empregos, com salários mais atrativos.”
Área de trabalho no Núcleo de Tecnologia e Design do Couro e do Calçado, em Franca (SP)
Igor do Vale/G1
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By Midia ABC

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