Parte das pesquisas realizadas em São Carlos (SP) é patrocinada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), uma das instituições inclusas no projeto de lei. Universidades podem ter que devolver recursos para o governo estadual
Os pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estão receosos com as definições do projeto de lei do governo estadual que prevê a devolução das reservas de verbas das instituições paulistas aos cofres públicos.
Apesar de não serem prejudicados diretamente, a maioria das pesquisas é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que pode ter orçamento prejudicado pela lei (veja mais abaixo).
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A medida faz parte do projeto de ajuste e equilíbrio econômico que o governo enviou no mês passado para avaliação dos deputados na Assembleia Legislativa (Alesp) e que prevê especialmente a extinção de dez autarquias, fundações e empresas.
Procurada pela EPTV, afiliada da TV Globo, a assessoria de imprensa do Governo do Estado informou que a utilização de superávit das universidades e da Fapesp não afeta a prestação de serviços e que são sobras de recursos que estão sendo realocadas para pagar aposentadorias e pensões das próprias universidades.
O projeto de lei vai ser analisado em quatro comissões da Assembléia Legislativa antes de ser votado. Atualmente, ele está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação.
Medida
Pesquisadores da UFSCar temem prejuízo à ciência com devolução de reservas das verbas
Rodrigo Sargaço/EPTV
Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), quase metade da produção cientifica brasileira vem das universidades paulistas que são custeadas pela arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Os salários de funcionários consomem a maior parte desses recursos, sendo que o restante é reservado para investimentos em infraestrutura, projeto de pesquisa, manutenção e bolsas de estudo. O que “sobra” no final do ano poderia ser reinvestido em alguma área, mas o novo projeto de lei determina que todos esses recursos que ainda não foram gastos devem ser devolvidos ao estado.
De acordo com o coordenador do Centro de Pesquisa, Tecnologia e Educação em materiais vítreos da UFSCar, Edgar Zanotto, esse tipo de medida prejudica também as universidades federais. Apenas no ambiente em que trabalha, são mais de 30 pesquisas que acontecem de forma simultânea e 90% delas contam com o investimento da Fapesp.
“Aqui na federal, o impacto vem na forma de bolsas de pesquisas. Quase todos os grupos ativos têm boa parte das bolsas e dos seus projetos financiados pela Fapesp. A Fapesp é o principal financiador de pesquisa do estado de São Paulo”, explicou.
Segundo o coordenador, o erro do projeto de lei do governo estadual é que ele assume que há “sobras” nos recursos, quando na verdade eles já são escassos. “O que existe é um planejamento de longo prazo”, disse.
Pesquisadores da UFSCar temem prejuízo à ciência com devolução de reservas das verbas
Rodrigo Sargaço/EPTV
Já no centro de desenvolvimento de materiais funcionais da UFSCar, as pesquisas são voltadas para a área de nanotecnologia. A mais nova pesquisa é o tecido que mata o novo coronavírus em menos de 2 minutos.
O doutorando Marcelo de Assis faz parte da equipe de pesquisa há dez anos e confirma que cada projeto precisa de um tempo determinado para conseguir os resultados.
“Quando a gente vê os resultados saindo do papel e a tecnologia sendo transferida, a gente consegue ver um pouco de esperança no fim do túnel, visto que nosso trabalho dá resultado”, disse.
Neste centro, cerca de 70% das pesquisas desenvolvidas também são financiadas pela Fapesp e mantém pesquisadores em várias partes do mundo. A pós-doutoranda Camila Foggiestá na Espanha e pode contribui com pesquisas no combate à Covid-19.
Pesquisadores da UFSCar temem prejuízo à ciência com devolução de reservas das verbas
Rodrigo Sargaço/EPTV
“Nós pudemos transformar rapidamente os resultados dessas pesquisas em materiais que podem ser usados pela população, como por exemplo, em máscaras com atividade antiviral e também tecidos e roupas”, contou.
Segundo o pesquisador do mesmo centro Adilson de Oliveira, a parceria com a Fapesp já tem quase 20 anos, sendo que a cada ano são publicados cerca de 200 artigos científicos. O receio dos cientistas é que com o projeto de lei, alguns estudos sejam interrompidos.
“Ciência é um negócio que leva tempo. Para a gente chegar em um novo resultado leva quatro ou cinco anos, então a continuidade do financiamento dá uma segurança justamente para ser ousado, para você fazer avanços importantes”, disse.
Como exemplo, o pesquisador mostrou um equipamento que custou 600 mil dólares, mas que está há 8 meses quebrado e tem atrasado as pesquisas de dez cientistas. O conserto vai custar 40 mil dólares, que poderia ser remanejado dessas reservas que são economizadas ao longo.
“A manutenção da infraestrutura de pesquisa é fundamental. Se a Fapesp não tiver essa continuidade de recursos, fica difícil para a universidade se programar”, disse.
Pesquisadores da UFSCar temem prejuízo à ciência com devolução de reservas das verbas
Rodrigo Sargaço/EPTV
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Pesquisadores da UFSCar temem prejuízo à ciência com devolução de reservas das verbas
