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Dióres Santos Abreu, de camisa rosa, junto com a equipe da Biblioteca da FCT/Unesp de Presidente Prudente — Foto: Biblioteca/FCT/Unesp/Presidente Prudente
Dióres Santos Abreu, de camisa rosa, junto com a equipe da Biblioteca da FCT/Unesp de Presidente Prudente — Foto: Biblioteca/FCT/Unesp/Presidente Prudente
A história da maior cidade do Oeste Paulista foi objeto de pesquisa do professor e historiador Dióres Santos Abreu. Ele retratou os primeiros anos do município, o que se tornou o livro “Formação Histórica de uma Cidade Pioneira Paulista: Presidente Prudente”, publicado em 1972. Essa contribuição já fazia parte da história da cidade e virou referência junto com seu autor, que morreu no último sábado (26), aos 84 anos. O sepultamento foi neste domingo (27), no Cemitério Municipal São João Batista, em Presidente Prudente.
Formado pela Universidade de São Paulo (USP), Abreu foi professor do Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente. Ele foi um dos fundadores do Programa de Pós-Graduação em Geografia na FCT e ministrou a primeira aula do curso.
O escritor e também historiador Benjamin Teodoro de Resende falou ao G1 sobre a importância da obra “Formação Histórica de uma Cidade Pioneira Paulista: Presidente Prudente”.
“O professor Dióres foi um historiador científico de Presidente Prudente. Ele relatou toda a história do começo da cidade, em 1917, até a década de 1960. O trabalho dele de pesquisa é muito importante para os estudantes que querem conhecer a história do município. Isso marcou a história e vai marcar eternamente a cidade. Ele retratou o cinquentenário com muita facilidade, ânimo. É uma pesquisa aprofundada para as gerações futuras”, destacou o escritor, que conheceu Abreu no início dos anos 60.
Resende trabalhou com a esposa de Abreu, que também era professora na Escola Estadual IE Fernando Costa.
“É uma grande perda. Ele retratou a história e ajudou a formar inúmeros alunos. Fomos amigos, com uma amizade de respeito, cordialidade. Ele deixou a esposa e filhos”, falou o escritor.
A diretora da Biblioteca da FCT/Unesp de Presidente Prudente, Teresa Raquel Vanalli, contou ao G1 que foi transferida para o município no ano 2000.
“Logo nos primeiros dias eu já conheci o professor Dióres, porque ele era um frequentador assíduo. Ele fez muitas doações ao longo desses anos. Ele comprava um livro, lia e já doava. Ele era uma pessoa extremamente preocupada com o enriquecimento do acervo, a disponibilização dos livros para a comunidade, um incentivador ímpar da leitura. Era uma pessoa comprometida com a cultura, com a memória e com a leitura”, disse.
Ela ainda lembrou que Abreu era uma pessoa brincalhona e que tinha uma boa relação com todos os funcionários da biblioteca.
“Era uma relação de amigo, de muito carinho. Foram muitos anos de amizade. Ele vinha praticamente todos os meses à biblioteca. Não passava em branco, sempre marcava presença. É uma perda muito grande, ele foi uma pessoa extremamente significativa”, pontuou a diretora ao G1.
Em 2018, na comemoração dos 30 anos da pós-graduação, Abreu foi homenageado. Em seu discurso, o docente falou sobre a função da história. Confira abaixo o discurso na íntegra.
“Senhoras e Senhores! Parabéns a todas as pessoas envolvidas na iniciativa da comemoração dos 30 anos da Pós-Graduação em Geografia desta Faculdade. Os nossos agradecimentos pelo convite para participarmos desta efeméride.
Comemorar é trazer à memória, à lembrança, um fato, um acontecimento, uma pessoa. É fazer História. Para que serve a História? Porque nos interessarmos com o ocorrido no passado se sabemos que ele é irreversível e que não podemos mudá-lo? Com tantos problemas a serem resolvidos aqui e agora por que “perdermos tempo” com o que ocorreu há anos ou séculos às vezes em terras distantes? Para que adianta estudar a História?
Trazer à memória, comemorar o passado é justamente para resolvermos os problemas que nos cercam, para entendermos o que está acontecendo à nossa volta, para sermos lúcidos diante da complexidade da sociedade onde vivemos.
O presente é fruto do passado. As situações têm as suas raízes no passado. Mas, a História não é fatalista ou determinista, saudosista ou tradicionalista. A História não se repete. O conhecimento do passado implica muitas vezes na necessidade de negá-lo, ultrapassá-lo. Seu desconhecimento pode significar a perpetuação de situações que não interessam mais às exigências do presente.
A História, também, não julga. Sua palavra chave é – compreender – o que não significa concordar. Estamos a falar de História quando deveríamos falar de historiadores. Porque a reconstituição do passado é feita por pessoas cada qual com sua formação teórica metodológica que fará um trabalho explicativo decorrente do seu perfil. Tantos quanto forem os historiadores de um assunto tantas serão as interpretações. E elas serão sempre provisórias até o aparecimento de nova documentação e de novas questões colocadas.
Para nós, isso torna a História extremamente sedutora pois está sempre exibindo novos encantos. Para outros, essa provisoriedade é angustiante e desestabilizadora. Esta digressão teórica é para inserir nela a comemoração desta noite.
A nossa Pós-graduação em Geografia tem que ser entendida no contexto histórico do curso de graduação de Geografia. Quando a Pós surgiu, em 1988, o curso de Geografia já tinha uma vivência de 29 anos, pois fora criado em 1959. Possuía experiência docente, de pesquisa, de excursões, de intercâmbio acadêmico.
Quando houve a ameaça de extinção do curso de Geografia, em 1976, falou alto o seu passado de realizações para impedir a degola. Outros fatores também ajudaram, mas o cabedal bateu forte.
A Pós-graduação surgiu, portanto, como uma decorrência, uma etapa superior. Só monstro nasce grande. A nossa Pós nasceu pequena, temerosa, humilde. Aqui na Faculdade, sempre tivemos inimigos externos poderosos. Ironicamente, com a Universidade, a Pós enfrentou inimigos internos poderosos.
Galhardamente, a Pós foi vencendo as dificuldades podendo chegar à comemoração de hoje com uma amplitude de realizações. Mas, atenção, o legado desses anos tem que ser cultivado com responsabilidade e dedicação. O 7 pode virar 5 num piscar de olhos.
Com o distanciamento de 30 anos, o tempo de uma geração, alguém se habilita a fazer a história da Pós? É trabalho para uma equipe. Não deixem passar a oportunidade que este aniversário proporciona. Senão pode haver a perda irreparável de documentação.
Nem sempre se tem consciência do momento histórico em que se está vivendo ou da testemunha que se está sendo de algo. Conscientemente, naquela manhã do dia 11 de março de 1988, uma segunda feira, às 8 horas, nós nos sabíamos um participante presencial da História. O Professor José Ferrari Leite, primeiro coordenador da Pós, me apresentou à primeira turma para a primeira aula.
Eram 10 ou 15 pessoas muito simpáticas, muito interessadas. Houve uma boa interação porque muitos já eram professores e traziam conhecimentos e experiências. O curso semestral de março a junho versou sobre coronelismo no âmbito da História do Brasil. Foi a partida dessa longa jornada que se desdobrará para voos sempre mais altos.
Até quanto? Sem dúvida, 70 x 7.
Muito obrigado.”