Construtoras FBS e Lopes Kalil pediram mais 90 dias para concluir totalmente a obra até 28 de fevereiro, alegando ‘diversas alterações’ no projeto inicial e problemas com a pandemia. Secretaria de Obras deu aval pra prorrogação. Gestão Bruno Covas diz que vai entregar espaço e obras continuarão com área liberada para pedestres. Vista do Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, durante reforma de revitalização
Fábio Tito/G1
A reforma do Vale do Anhangabaú, na região central da cidade de São Paulo, deverá ser concluída apenas em fevereiro de 2021, como mostram documentos obtidos com exclusividade pelo G1. O Consórcio Central, responsável pela reforma, solicitou um novo prazo de 90 dias para o término total da reforma e, segundo o novo cronograma, a obra deve estar totalmente concluída apenas em 28 de fevereiro de 2021.
Apesar da nova prorrogação já ter o aval da área técnica da SPObras, conforme os documentos, a Prefeitura de São Paulo diz por meio de nota que vai reinaugurar a área ainda neste ano, em 30 de outubro, mais de um mês depois da segunda data anunciada: 20 de setembro (veja mais abaixo).
No total, a obra está orçada até agora em R$ 93,8 milhões, quase R$ 14 milhões a mais do que o previsto no projeto inicial da prefeitura. Na carta enviada ao prefeito Bruno Covas (PSDB) e a São Paulo Obras (SPObras), a FBS Construção Civil e a Lopes Kalil Engenharia atribuem o novo atraso à pandemia do coronavírus, que teria demandado o afastamento de parte da equipe, e aos serviços subterrâneos do espaço.
“A necessidade de diversas alterações no projeto para que se pudesse adequar as inúmeras interferências, tanto com as redes de telecomunicações, quanto as concessionárias de água, esgoto, gás e energia elétrica, acarretaram a necessidade de novo planejamento de obra e prorrogação das datas finais para diversos serviços, especialmente o piso”, diz a carta.
O documento do consórcio também alega que, por causa da pandemia, a empresa “mantém afastados alguns funcionários essenciais para o perfeito andamento da obra, fato que tem provocado algumas complicações para o cumprimento do cronograma”.
Carta do Consórcio Central, responsável pela obra no Vale do Anhangabaú, pedindo nova prorrogação do prazo de execução da obra.
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Carta do Consórcio Central pedindo mais prazo para finalização das obras no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
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O que diz a Prefeitura de São Paulo
O G1 questionou a Prefeitura de São Paulo sobre o novo atraso e a gestão Bruno Covas (PSDB) afirmou que vai entregar o espaço ainda neste ano, mesmo incompleto. A data de inauguração que deveria ser em 20 de setembro, agora foi fixada em 30 de outubro de 2020 pela gestão municipal.
Por meio de nota, a prefeitura admite, porém, que o Consórcio Central vai continuar operando no Vale do Anhangabaú mesmo após a entrega. A prefeitura alega, entretanto, que se trata de uma “operação assistida” da empresa responsável pela reforma, que terá duração de cerca de seis meses.
“A obra do Vale do Anhangabaú ficará pronta no dia 30 de outubro. O espaço estará aberto aos pedestres, mas o consórcio responsável pelas obras continuará presente durante os seis meses de duração da operação assistida”, disse o governo, acrescentando que a operação visará “corrigir eventuais desconformidades na obra. Serão testados, por exemplo, os mecanismos das fontes e o sistema de drenagem”, diz a nota da prefeitura (veja íntegra abaixo).
A reportagem procurou as construtoras FBS e Lopes Kalil Engenharia para entender como se dará essa “operação assistida”, mas as duas empresas disseram que não vão se pronunciar sobre a obra no Vale do Anhangabaú.
Mesmo mantendo a abertura do espaço para 30 de outubro, a gestão municipal admite que o cronograma da obra está atrasado, principalmente os serviços de infraestrutura de cabeamentos e tubulações.
“Houve redução drástica das equipes para garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. Também foram criadas escalas de almoço para evitar aglomerações os refeitórios. Em função deste problema de saúde pública, o cronograma teve que ser alterado. As concessionárias tiveram ainda que refazer a infraestrutura de cabeamentos e tubulações. Somente as empresas de telecomunicações somam 27 intervenções. Estes serviços continuam sendo implantados”, afirma.
Atrasos na reinauguração
As obras de requalificação do Vale do Anhangabaú começaram há pouco mais de um ano, em junho de 2019, e já passaram por oito termos de aditamento de contrato entre a Prefeitura de São Paulo e o Consórcio Central. O nono aditamento está em andamento e já teve aval técnico do Núcleo de Gestão de Execução Contratual da SPObras para ser assinado, mas ainda não foi publicado no Diário Oficial (ver documento abaixo).
As diversas prorrogações e aditamentos elevaram os custos totais do serviço para R$ 93,8 milhões, valor 17,4% maior do que o previsto inicialmente, que era de cerca de R$ 80 milhões, conforme o G1 já tinha publicado com exclusividade em 08 de julho.
Na última reportagem, o Consórcio Central elencou quatro motivos para pedir a alteração contratual que resultou no aumento do custo e atrasos na obra:
imprevistos no processo de pavimentação e terraplanagem da área;
interferências nas redes de telefonia, água, esgoto e gás;
mudanças no projeto da praça de esportes, a pedidos de skatistas;
adequação do sistema de fontes.
Segundo a justificativa do consórcio, problemas encontrados durante as obras fizeram com que o projeto original se tornasse inadequado nesses quatro aspectos da reforma.
Simultaneamente, a inauguração também tem sofrido atrasos. A expectativa era de que o espaço fosse reaberto ao público em junho de 2020, depois passou para 13 de julho, então para 20 de setembro, e, agora, a gestão Bruno Covas aposta no dia 30 de outubro.
Documento técnico da SPObras autorizando a nova data de prorrogação do contrato do Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo.
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Documento técnico da SPObras autorizando a nova data de prorrogação do contrato do Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo.
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Requalificação do Vale do Anhangabaú deve ser entregue em setembro
Íntegra da nota da Prefeitura de SP:
“A Prefeitura de São Paulo, por intermédio da SPObras informa que a obra do Vale do Anhangabaú ficará pronta no dia 30 de outubro, mas entrará em operação assistida a partir do próximo dia 30. A entrega contará com adequação satisfatória de todos os pontos de acessibilidade, seguindo a legislação vigente. O espaço estará aberto aos pedestres, mas o consórcio responsável pelas obras continuará presente durante os seis meses de duração da operação assistida. O objetivo é corrigir eventuais desconformidades na obra. Serão testados, por exemplo, os mecanismos das fontes e o sistema de drenagem. Importante esclarecer que como havia sido prometido pela Prefeitura, ficou pronta em maio a parte da requalificação, onde deveria ser realizada a Virada Cultural, adiada por causa da pandemia do novo coronavírus. Esta etapa compreende o trecho que vai da Avenida São João até o viaduto do Chá. Foram executados os serviços de demolição do piso, terraplanagem, sistema de drenagem e cisternas, sistema de elétrico, galerias técnicas, quiosques e fonte. A segunda etapa da entrega da obra precisou ser alterada em função da pandemia do novo coronavírus. Houve redução drástica das equipes para garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. Também foram criadas escalas de almoço para evitar aglomerações os refeitórios. Em função deste problema de saúde pública, o cronograma teve que ser alterado. As concessionárias tiveram ainda que refazer a infraestrutura de cabeamentos e tubulações. Somente as empresas de telecomunicações somam 27 intervenções. Estes serviços continuam sendo implantados. A data da licitação semipresencial é dia 13/10/2020 às 10h”.
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