Empresas de São Carlos expandem a produção, abrem filial e até contratam durante a pandemia


Setores da alimentação, embalagens e tecnologia estão entre os que encontraram oportunidades de desenvolvimento na quarentena. O casal Letícia Ayo Schmiedecke e Eduardo Miranda de Souza resolveu expandir sua padaria em São Carlos no meio da pandemia
Divulgação
No último dia de julho, a boulangerie Ma Petite, especializada em pães de fermentação natural, inaugurou sua nova sede em São Carlos (SP) em um local três vezes maior que o antigo onde funcionou nos últimos 4 anos, desde que foi inaugurada.
A expansão em plena crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19 foi desaconselhada por todos, mas para o casal Letícia Ayo Schmiedecke e Eduardo Miranda de Souza foi a decisão natural a ser tomada diante do crescimento da demanda que a empresa teve nos últimos meses.
De acordo com o Sebrae, os meses de março e abril foram o período no qual a economia brasileira foi mais afetada pela pandemia. Houve uma redução de 4,2% no faturamento real das micro e pequenas empresas (MPEs) paulistas na comparação de março com fevereiro. Já em abril, a queda foi de 30,8% em relação a março.
Antes e agora: padaria de São Carlos mudou para um espaço três vezes maior no meio da pandemia
Arquivo pessoal/Divulgação
Já a partir de maio começaram a ser observados sinais de melhora. O faturamento aumentou 3,6% em relação a abril. Entre o segmento que tiveram menos perdas está o de alimentação, no qual a Ma Petite faz parte.
Segundo o Sebrae, as áreas menos afetadas durante a pandemia têm como características a natureza essencial da atividade, como a alimentação.
A demanda na época da pandemia como saúde e embalagens ou a relação com a tecnologia da informação, utilizada para manter negócios em atividade e realizar transações de compra e venda e teletrabalho, e empresas de São Carlos que se enquadram nesses segmentos, conseguiram aproveitar as oportunidades para expandir seus negócios.
Pandemia gerou oportunidade
Casal Letícia e Eduardo (foto) mudaram sua boulangerie em São Carlos para um local três vezes maior e aumentaram em 45% a produção
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No caso da Ma Petite, a mudança já era um desejo do casal empresário, mas veio a quarentena e colocou um ponto de interrogação nos planos. “A gente entrou naquele desespero, o que vai ter que cortar, de onde vai tirar. A gente trabalha com matéria-prima importada e começou a sobrar muito pão”, lembra Letícia.
Após três semanas de quedas, as vendas foram se estabilizando, voltando ao normal, até aumentar em 20%. Para Letícia, o aumento da demanda foi reflexo do tipo de quarentena que foi realizada.
“A gente percebeu que o povo ficou muito preocupado no começo, então para gente e outros parceiros que a gente conhece houve uma queda grande, por causa do medo de sair. Só que não durou muito tempo, não teve um isolamento bem estabelecido, aí o pessoal começou a sair.”
O resultado de cada empresa teve durante a pandemia dependeu da atitude que cada um tomou diante do desafio imposto pela quarentena. A primeira solução da Ma Petite para reverter o impacto do isolamento foi acrescentar o serviço de delivery, que era praticamente inexistente na operação e acabou por se tornar o principal canal de vendas.
Boulangerie Ma Petite teve ampliação em meio à pandemia, em São Carlos
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O sucesso da iniciativa deu a confiança necessária para a mudança de local. “Foi bastante difícil. Todos os aconselhamentos eram para não fazer isso. Mesmo assim, a gente resolveu arriscar, por estar relativamente seguro porque a gente tem uma clientela fiel e está dando certo”, diz Letícia.
Na nova sede, a produção habitual aumentou mais 30%. Se levar em conta os novos produtos criados na nova cozinha, o crescimento chega a 45%. Com isso, duas vagas abertas pela saída voluntária de funcionários já foram repostas e uma nova vaga deverá ser aberta em breve. E ainda há espaço para o crescimento, com a abertura do atendimento presencial nas mesas.
E-commerce foi oportunidade para empresa de embalagens
Empresa de embalagens de São Carlos cresceu mais de 30% durante a pandemia
Reprodução EPTV
Na empresa de embalagens Fapack o período da pandemia de Covid-19 marcou a consolidação de um novo mercado. No contexto geral, a empresa aumentou a produção entre 30% e 35% e só não expandiu mais porque está faltando matéria-prima no mercado.
Esse crescimento foi puxado, sobretudo, pelo e-commerce. Entre abril e julho, a produção da Fapack para este nicho aumentou 300%.O empresário Marcelo Drighetti já estava de olho nesse mercado que, com a pandemia, passou a ser uma das suas principais clientelas.
“Eu vinha preparando desde 2019 para o segmento de e-commerce. O meu filho preparou a fábrica para este segmento, desenvolvendo ferramentas e uma grande variedade de medidas de caixa para e-commerce. Quando veio a pandemia a gente estava muito bem abastecidos com este tipo de material”, contou.
O empresário Marcell Drighetti manteve a empresa de embalagens com investimentos em produtos para o e-commerce
Reprodução EPTV
Assim como todos os outros empresários, Drighetti passou por um período de temor logo no início da quarentena. Não demitiu, mas deu férias para os 17 funcionários. No mercado há 19 anos, ele diz que essa foi a maior crise que ele vivenciou.
“Durante a pandemia, graças a Deus nos não paramos, fomos um dos poucos que não pararam, mas tivemos mais ou menos 50% dos nossos clientes que pararam e não voltam mais. Nós só tivemos crescimento porque os clientes que permaneceram ativos eram de indústrias químicas, de álcool em gel, indústria farmacêutica, produtos hospitalares, que também tiveram crescimento nesse período.”
Por isso, ele colaborou com os outros empresários da maneira que pôde. “A gente viu grandes parceiros passando por dificuldades. Prorrogamos títulos de muitos clientes para que a pessoa consiga passar por esse momento e depois acertar. Acho que todo mundo tem que ceder um pouco porque esse pouco que cada um cede, todos se ajudam”, diz.
Produção de embalagens para e-commerce de fábrica de São Carlos cresceu 300%
Reprodução EPTV
Mas em agosto falta de matéria-prima freou o crescimento da Fapack fez com que a empresa parasse de receber novos pedidos.
“É muito difícil pra gente, mas eu tenho que falar não para um monte de clientes, eu não posso abrir clientes novos hoje. O mercado está aquecido, mas por outro lado não tem matéria prima. Se não falasse papelão no mercado a gente bateria recorde de produção todo mês”, afirmou.
Pandemia digital
Empresa de software Monitora contratou, pelo menos, 35 pessoas durante a pandemia (foto de arquivo de antes da pandemia)
Monitora/Divulgação
Assim como na alimentação, o setor de tecnologia viu a demanda cair no primeiro momento da pandemia e depois crescer, em alguns casos de forma vertiginosa. Uma das principais empresas nessa área de São Carlos, a fabricante de softwares Monitora enfrentou os desafios do crescimento dentro de um ambiente de pandemia com a abertura de uma unidade em São Paulo e a contratação de, pelo menos, 35 funcionários.
De acordo com o responsável pelo marketing e vendas da Monitora, Maurício Caetano, após uma reação inicial de segurar as despesas e cancelamento de contratos, as empresas entenderam que a pandemia era uma situação transitória e para saírem dela, elas precisavam ser digitais.
“Elas perceberam que tecnologia era uma necessidade, uma ferramenta, e a indústria da tecnologia se viu positivamente impactada. Nos dois primeiros meses houve retração, receio das empresas, mas foi um momento de adequação, depois o orçamento de investimento das empresas foi direcionado para a tecnologia e o orçamento de TI (Tecnologia da Informação) das empresas cresceu”, diz Caetano.
O responsável pelo marketing e vendas da Monitora, Maurício Caetano, diz que empresa se comunica melhor agora
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O crescimento da demana veio no segundo mês da quarentena, primeiro pelas empresas maiores e, já no final de maio, pelas pequenas e médias empresas.
A maior necessidade era por sistemas que favorecessem o trabalho remoto. “Como você não tem mais as pessoas trabalhando juntas esses processos sofreram um impacto, demorado mais, ficando mais complexos com as pessoas trabalhando dentro de casa, ou por problemas de infraestrutura ou porque não tinha mais a proximidade entre as pessoas”, conta o representante da Monitora.
Com a volta dos investimentos dos clientes, a abertura da unidade de São Paulo que já estava planejada, mas foi suspensa, saiu dos planos e se tornou uma realidade, mas de uma forma diferente. Os funcionários contratados para a nova filial, assim como os que foram contratados para fortalecer o time de São Carlos, iniciaram o seu trabalho em casa. Dessa forma, dezenas de pessoas ainda não conhecem presencialmente a equipe com a qual trabalham.
No momento, a Monitora tem funcionários espalhados pela capital e interior de São Paulo e também por Minas Gerais e Paraná. Para integrar toda essa gente, a solução foi investir em ferramentas e ações de engajamento e comunicação.
Monitora antes da quarentena. Atualmente todos os funcionários da Monitora e todos os novos colaboradores contratados trabalham em casa.
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“ A gente é uma empresa que por cultura é muito junto, mas agora a gente aprendeu a ficar junto, mas separado. Foi criado um comitê da diretoria e gerencia para discutir a situação diariamente. Investimento em plataformas de ginástica em casa, atendimento psicológico , criamos uma competição que gerava cestas básicas ou ajuda para a Santa Casa de São Carlos e inclusive festejamos os 10 anos da Monitora em home office”, conta Caetano.
Ainda não há perspectiva da data de retorno para as atividades presenciais, mas segundo o executivo, alguns procedimentos adotados durante o período de trabalho remoto serão mantidos quando os funcionários voltarem para a unidade de São Carlos e começarem a trabalhar na de São Paulo.
“A gente mudou a ferramenta de comunicação da empresa, ela está mais integrada, há mais unidade, as soluções acontecem mais rápido. Pela força da situação, a comunicação tem que ocorrer de forma mais rápida e clara, fica mais fluida e eu acho que quando a gente trabalhar junto de novo a gente vai trazer isso como um aprendizado deste momento. A gente é melhor se comunicando melhor.”
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By Midia ABC

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