Diferenças podem ser genéticas ou até consequência de poluentes; veja vídeo e fotos! Sanhaçu-cinzento com anomalia no bico foi flagrado se alimentando com tranquilidade em Paranaguá (PR)
Cidolar Ferreira Pereira/Acervo Pessoal
Se alimentar, beber água, vocalizar, interagir com o grupo e até atrair os parceiros. Muitas são as funções dos bicos nas aves e, por conta disso, todos os elementos podem ser afetados quando essa parte do corpo apresenta uma deformidade, as chamadas anomalias. Você já viu alguma ave assim?
As anomalias podem ser causadas por conta de doenças, de uma incubação inapropriada, má nutrição e até como consequência de acidentes ou do contato com poluentes. É o que destaca o ornitólogo professor da Universidade Federal de Itajubá, Thiago Vernaschi: “no caso de fraturas acidentais, aparece de forma repentina na vida da ave, mas se a origem for genética ou derivada do desenvolvimento, é possível que surjam cedo na vida dos indivíduos”.
Urubu-de-cabeça-preta com uma atrofiação no bico foi flagrado por observador no Tocantins
Wanieulli Pascoal/Acervo Pessoal
Alguns tipos de deformidades detectadas pelos pesquisadores mostram que há aves que apresentam: mandíbulas cruzadas, a parte superior do bico curvada para baixo, a parte de baixo curvada para cima, o alongamento do bico todo ou até o bico aberto, situação onde as mandíbulas superior e inferior não fecham totalmente, deixando uma lacuna visível.
De acordo com estimativas, o número de aves que apresentam deformidades de bico se aproxima de 0,5% no mundo
Bico de arapaçu-de-garganta também foi registrado apresentando anomalias
Marco Silva/Acervo Pessoal
Dados indicam que aves com anomalias nos bicos têm uma taxa de mortalidade maior do que os indivíduos com bicos normais. A dificuldade na conquista de alimentos é um dos fatores principais nesse processo, especialmente em locais muitos frios. “O mais surpreendente é observar que muitas aves que apresentam anomalias no bico aparentam boas condições físicas e se comportam de forma natural. Isso indica que elas conseguem, de alguma forma, suplantar as dificuldades”, destaca o professor.
Picapauzinho-verde-carijó, um animal que depende exclusivamente da captura de insetos no tronco, resistia bravamente à anomalia no bico
Thiago Vernaschi/Acervo Pessoal
Apesar da convivência com os grupos também parecer um impasse superado para esses seres diferentes, em muitas espécies, os machos servem suas parceiras com alimentos durante a época de reprodução. Nesses casos, um bico deformado representaria uma dificuldade no processo e poderia fazê-los parecerem menos atrativos.
Se a origem da anomalia for genética, é possível que seja herdada na próxima geração e, se a causa foi alguma infecção transmissível, os filhotes também poderão adquirir essa característica durante o desenvolvimento
Diferentemente da primeira foto desta reportagem, a anomalia tornou o bico deste sanhaçu-cinzento de Piraju (SP) curvado para cima
Mariza Sanches/Acervo Pessoal
A ação do homem
Periquito-rico também já foi flagrado apresentando um bico em tamanho menor do que o visto comumente
Marco Silva/Acervo Pessoal
Intervenções humanas no meio ambiente ampliam as chances de anomalias aparecerem. “Sabendo que as anormalidades podem ter origem na exposição a contaminantes, poluentes e compostos químicos, atividades humanas podem provocar essas anomalias”, explica Vernaschi. A ação danosa dos homens pode ainda influenciar essas aves de outra forma. Em cativeiros, alimentos fornecidos para elas, raramente, compõem a dieta completa e de textura ideal que encontrariam naturalmente, o que pode gerar diferenças nos padrões do bico.
Registro de uma coruja-buraqueira com o bico deformado também dá destaque às anomalias
Wanieulli Pascoal/Acervo Pessoal
Outro detalhe relevante é que grande parte dos registros de anomalias foram feitos em áreas urbanas, o que destaca a proximidade humana desses fenômenos. Entretanto, a falta de flagrantes e pesquisas nesse sentido ainda não permite entender muitos detalhes sobre esses eventos. “É muito importante que as pessoas registrem e divulguem eventuais observações de anormalidades, tanto em ambientes naturais como urbanos. A colaboração de todos auxilia de forma central para a compreensão desses fenômenos”, reforça o professor.
Super crescimento da parte superior do bico foi flagrado em uma caturrita em Poconé (MT)
Edson Endrigo/Acervo Pessoal
Veja um vídeo com anomalias no bico de sanhaçus-cinzentos
