Estelionatários aplicam golpes por meio de site de leilão; Mogi é o local onde, supostamente, os veículos arrematados estariam

Criminosos usaram selos de segurança e até o brasão do Tribunal de Justiça de São Paulo. Vítimas descobriram que se tratava de um golpe quando chegaram ao suposto pátio de veículos. Estelionatários aplicam golpes por meio de site de leilão de veículos
Estelionatários estão aplicando golpes por meio de um site de leilão de veículos. Com isso, pessoas de outros lugares do estado de São Paulo foram até Mogi das Cruzes, onde supostamente estariam os veículos arrematados nesses leilões virtuais.
Um casal de Barueri foi para Mogi retirar o carro que comprou no site de leilões. Os empresários só conseguiram confirmar que se tratava realmente de um golpe quando chegaram ao suposto pátio de veículos.
“A gente confrontou as informações e descobriu que tinha caído em um golpe, porque até então foi tudo muito corrido. Na semana, devido outras obrigações de trabalho, você acaba não se atentando, levantando outras informações, e a ficha caiu mesmo neste momento. Outra pessoa havia procurado o endereço neste local e não encontrava nada”, diz a empresária vítima do golpe, Renata Monteiro Barboza de Souza.
O veículo comprado é um utilitário. Como os empresários trabalham com o setor de transportes, a ideia era aproveitar o “bom negócio” para aumentar a frota.
“A gente estava à procura em sites de leilões de um veículo utilitário, até mesmo caminhões para investimento e melhorar a frota de veículos. Eu dei uma busca e acabei chegando na Rodoarti”, conta o empresário Erlen Ferreira Souza.
O lance inicial foi de R$ 29,6 mil, mas foi arrematado por R$ 31,1 mil. Com a comissão e a taxa, o casal transferiu cerca de R$ 34,6 mil para a conta de Douglas Fernando de Souza. Douglas seria a pessoa autorizada pelo leiloeiro Iraildo de Sá Cavalcante a receber o pagamento.
O nome de Iraildo também aparece em outra fraude, envolvendo o mesmo site: o Rodoarti Leilões. Mas, nesse caso, a pessoa autorizada é outra: Claudemir Pereira Cerqueira. A conta de Claudemir é de uma agência do banco do Itaú na região da Vila Ema, na capital.
O leiloeiro Iraildo de Sá Cavalcante diz que, no ano passado, um amigo fez contato com ele e disse que recebeu uma pessoa dizendo que existia um site dele vendendo veículos, mas que o site não era o dele.
“Quando eu tomei posse dessa informação, imediatamente eu fui ao Deic, registrei boletim de ocorrência. No dia seguinte eu fui falar com a Interpol, porque a nossa profissão em uma vertical responde à presidência da república, fui falar com a Polícia Federal, pedi instauração de inquérito. Mas ainda, para a Polícia Civil e Federal, não havia registro de nenhum boletim de ocorrência. Parece que depois que eu registrei, passou a chover boletins. Tanto em São Paulo, tem casos que eu estou me defendendo em Goiás, Minas Gerais e aqui em São Paulo são seis”, diz.
A reportagem da TV Diário navegou pela página do suposto leilão, e o domínio da página chamou a atenção. O final do site é “.com/br”, diferentemente dos sites brasileiros, que terminam em “.br”.
O lance inicial é quase um terço do valor de tabela do carro. Para enganar as vítimas, os criminosos usaram selos de segurança e até o brasão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que legaliza este tipo de site. Foram exatamente estes selos que deram a segurança para a funcionária pública Regineide Moraes dos Santos.
“Como o meu marido trabalha com guincho, ele já foi em muitos pátios de leilão retirar bens. A gente tem amigos que arrematam por leilão e ele vai retirar. A gente vê tanta gente que consegue, que era um sonho da gente. Dissemos vamos tentar, mas nessa acabamos caindo em um site falso”, relata a funcionária pública Regineide Moraes do Santos.
Ela pagou R$ 23,1 mil por um utilitário, que na tabela Fipe custa R$ 63 mil. O que ela comprou aparece como arrematado no site. O usuário que deu o maior lance é o marido dela. Chegou a receber, por e-mail, a confirmação da compra e uma nota fiscal. Em um dos documentos, para dar mais credibilidade, os criminosos chegam a citar uma lei, a 9.973 de 2000, e o decreto 3855, de 2001. As duas tratam de normativas para o setor agropecuário. Para dar segurança ao comprador, eles fazem contato via WhatsApp até o momento da transferência.
“Eu mandei várias mensagens para ela, ela on-line e não atendia. Liguei via WhatsApp e ela não atendia. Liguei ainda no número fixo e eles não atendiam. Meu filho que tinha entrado no leilão, mas não deu o lance, conseguiu falar com ela. Aí ela perguntou no que poderia ajudá-lo. Ele disse que o pai tinha comprado um caminhão e estava esperando para retirar e perguntou se ela poderia passar a localização, aí ela não atendeu mais ele”, disse Regineide.
Nos dois casos, os pagamentos foram feitos por transferência bancária, e não por boleto registrado. Outra coisa em comum é que as vítimas não são de Mogi das Cruzes, o que, de certo modo, facilitou o golpe. No site, os criminosos colocaram só o nome de uma rua da cidade e uma foto de satélite, onde é possível ver carros estacionados em um terreno.
Olhando assim não dá nem para desconfiar, e mesmo assim quem mora longe, por exemplo, acaba não se preocupando em visitar o local antes da compra. As vítimas fizeram boletim de ocorrência, e o leiloeiro que teve o nome usado pelos bandidos também. Ele, inclusive, registrou a denúncia na Polícia Federal e na Interpol, porque os sites não estariam hospedados no Brasil.
“Tudo site ‘.com’. Quando eu conversei com a Polícia Federal, a grande dificuldade está na origem. Eles se escondem porque o domínio é nos Estados Unidos”, diz o leiloeiro.
De maio do ano passado para cá, ele recebeu mais de 20 e-mails de clientes que caíram no golpe que usa o nome dele. Mesmo com as denúncias, a página da Rodoart ainda está no ar. Quem quiser consegue se cadastrar e até mesmo dar lances.
A reportagem da TV Diário tentou ligar mais de uma vez para a suposta empresa de leilões, mas ninguém atendeu. Por WhatsApp, a reportagem pediu para ver os carros pessoalmente. A última resposta foi que o agendamento deve ser feito por e-mail e que a visitação acontece toda segunda-feira.
“Tem muitas pessoas humildes iguais a nós que tentam adquirir um bem e pegam pela frente um aproveitador. Meu marido entrou em depressão, porque ele caiu em um golpe. Eu estava lendo e disse que nós não temos nem o ensino fundamental completo, e eu estava lendo que advogado, empresário caíram no mesmo golpe. Eles são estudados, mas nós sabemos só o mínimo possível”, diz Regineide.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública disse que o caso foi registrado como falsidade ideológica e é investigado pela delegacia do bairro de Agua Fria, na capital, responsável pela área dos fatos.
A produção da TV Diário também tentou falar com a Polícia Federal, onde Iraildo também registrou o caso, mas não obteve resposta.

By Midia ABC

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