Família pede ajuda para manter tratamentos de homem que ficou acamado após atropelamento em Mogi das Cruzes


Elivan, de 49 anos, perdeu a força do corpo e agora depende de ajuda para realizar todas as atividades do dia a dia. O motorista fugiu, sem prestar socorro, e a vítima demorou mais de três horas para ser socorrida. Morador de Mogi das Cruzes segue tentando reconstruir a vida após atropelamento
Dois meses depois de ser atropelado, Elivan Santos Leal, de 49 anos, segue lutando pra reconstruir a vida. O acidente foi em junho, no distrito de César de Sousa, em Mogi das Cruzes. O caso foi registrado por câmeras de segurança e as imagens são fortes. O motorista fugiu, sem prestar socorro, e a vítima demorou mais de três horas para ser socorrida.
Elivan já está em casa, mas a recuperação tem sido sendo um processo doloroso e caro para a família. Para piorar, o motorista que o atropelou está solto. A esposa Marta Maria da Silva diz que, antes do atropelamento, a família vivia uma vida feliz. Agora, quase dois meses após o acidente, a preocupação faz parte da rotina.
“Eu não consigo mais. Eu não consigo mais olhar as fotos dele. Eu vejo a foto dele, eu vejo outra pessoa. Meu marido, agora eu vejo que esse não é o meu marido. Então está muito difícil pra mim. Eu não consigo nem ver as fotos dele mais, sabe? Ele está totalmente diferente do que ele era”, lamenta a esposa.
Depois de atropelamento, Elivan Leal precisa de ajuda diária
Reprodução/TV Diário
Eram 5h33 de um sábado, dia 27 de junho, quando Elivan passava pela rua, perto da casa onde mora. Ele estava a caminho do trabalho e, quando atravessava para o outro lado, um carro com faróis apagados apareceu em alta velocidade e o acertou em cheio.
A suspeita é de que o motorista do veículo disputava um racha com o carro que aparece na imagem segundos depois. Com o impacto, Leal foi arremessado a vários metros de distância. O socorro demorou três horas pra chegar.
Ao todo, o Elivan ficou 42 dias internado. Ele só foi liberado por causa do risco de contaminação pelo novo coronavírus no hospital. Desde então, ele está em casa, mas o quadro de saúde ainda é delicado. Um relatório médico divulgado na segunda-feira (24) mostra que ele apresenta tetraparesia, uma perda significativa dos movimentos, que no caso dele afeta o lado esquerdo do corpo.
O documento também cita que o paciente ainda se recupera de uma intervenção na traqueia, conhecida como traqueostomia, feita no período em que esteve internado.
Por fim, o relatório mostra que ele agora é totalmente dependente de ajuda para as atividades do dia-a-dia e que precisa de cuidados diários de enfermagem, além de fisioterapia três vezes por semana e de acompanhamento fonoaudiológico, já que também não consegue falar.
“Ele tem movimento, né? Mas só que ele não consegue ter firmeza. Se colocar ele em pé, ele cai. Até o pescoço dele, assim não tem firmeza no corpo, né? E a pancada na cabeça dele foi muito grave. Aí o médico falou que não sabe se ele vai voltar a andar, vai falar. Só o tempo vai dizer”, diz a esposa.
Na casa da família, tudo mudou depois do dia do acidente. A decoração e as fotos na estante agora dividem espaço com caixas, onde estão guardadas as fórmulas usadas na alimentação do Elivan, que agora é feita por meio de uma sonda no nariz.
Em outra estante a família guarda lenços umedecidos, gaze e fraldas, que também passaram a fazer parte da rotina dele do marido de Marta.
A família estima que, só para os próximos três meses, os gastos com todos esses produtos mais a enfermagem girem em torno de R$ 26 mil. Por isso, eles decidiram criar uma vaquinha na internet. “A gente está vivendo de ajuda, porque não tem como eu trabalhar, né? E ele necessita de uma pessoa pra estar aos cuidados dele, principalmente enfermeira”, comenta Marta.
“Com essa vaquinha, a gente consegue pelo menos uns dois meses, mais o que precisa pra manter as enfermeiras do lado dele, que ele necessita urgente por causa da traqueo dele, né? Porque, se não souber cuidar, ele corre risco de vida ainda”, completa a esposa.
O advogado que representa a família diz que o que piora a situação financeira é o fato de as perícias médicas estarem suspensas por causa da pandemia. Por isso, a indenização paga pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em caso de acidentes como o do Elivan, mal cobre as despesas.
“A empresa ela se responsabiliza pelos primeiros quinze dias, então juridicamente falando a empresa é responsável pelos primeiros quinze dias de salário. Depois a responsabilidade fica a cargo do INSS”, explica Átila Henrique Alves de Oliveira.
“Nesse período de pandemia, as perícias médicas foram suspensas. Então todo mundo nesse período que solicita o auxílio-doença tem um benefício provisório concedido, que é de um salário mínimo, e ele só vai conseguir receber o que de fato teria direito quando restabelecer essa questão da realização da perícia médica”, diz.
A defesa pretende responsabilizar o Estado, por causa da demora no socorro no dia do atropelamento. Para isso, pediu ao Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), os registros das chamadas telefônicas feitas naquela manhã. No entanto, o órgão se recusou a enviar as gravações.
O advogado, então, entrou com uma ação na Justiça solicitando os mesmos registros. Na decisão do dia 14 de agosto, o juiz Bruno Machado Miano atendeu ao pedido da defesa e deu prazo de 15 dias pra que a Fazenda Pública do Estado de São Paulo apresente os áudios.
O magistrado também impôs uma multa de R$ 300 por dia, em caso de descumprimento. O advogado explica que os áudios são fundamentais para que o processo siga adiante.
“Agora, a Fazenda está sendo intimada, então nem começou ainda a correr o prazo pra eles apresentarem essas gravações nos autos. Assim que apresentar, nós iremos montar o processo com essas provas robustas e buscar uma reparação de danos diante do Estado”, afirma.
Além da ação que pretende responsabilizar o Estado, um segundo processo também corre contra os envolvidos no atropelamento, que supostamente disputavam um racha. Os suspeitos negam a acusação. Eles chegaram a se apresentar na delegacia e a prestar esclarecimentos, mas foram liberados porque não tinham antecedentes criminais.
Na época, o motorista do carro que atropelou Elivan chegou a dizer que não viu que tinha atropelado uma pessoa, mas a mesma câmera que flagrou a cena mostrou que às 5h38, apenas cinco minutos depois, dois carros com as mesmas características passaram pela mesma rua, dessa vez no sentido contrário.
Nas imagens, dá pra ver que os carros abaixam a velocidade quando chegam perto de Elivan, que está caído no chão. O primeiro deles, um monza escuro igual ao que atropelou a vítima, aparenta ter avarias na parte da frente. Dias depois, a polícia encontrou o mesmo carro queimado. Agora, passados dois meses, a família espera por justiça.
“Ele destruiu uma família, um pai, um filho. Ele destruiu a gente. E vai ficar aí curtindo a vida, e a gente aqui sofrendo. Eu estou entrando em depressão, já estou tomando medicação, entendeu? E ele está aí curtindo a vida e nós estamos aqui. Meu marido acamado e nós também estamos acamados com ele, porque a gente não pode sair mais. A gente não pode mais sair, não pode fazer mais nada, tem que cuidar dele. Então a gente está igual a ele, acamado também”, completa Marta.
Sobre o processo contra a Fazenda Pública, o Diário TV pediu uma posição, mas até agora não teve resposta. A Secretaria de Segurança Pública também não respondeu aos questionamentos sobre como anda o processo contra os envolvidos no atropelamento. A Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que, até o momento, não foi citada nesta ação.

By Midia ABC

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