Dados foram coletados entre abril e julho e mostra o impacto da pandemia em famílias vulneráveis chefiadas por mulheres na cidade de São Paulo e atendidas pelo Unicef. Maioria teve fonte de renda afetada pela pandemia, diz o estudo. Pesquisa da Unicef alerta para aumento do trabalho infantil durante a pandemia
Levantamento feito pelo Unicef revela a intensificação do trabalho infantil para 21% das 52.744 famílias vulneráveis que receberam doações da organização durante a pandemia de Covid-19 nos meses de maio, junho e julho na cidade de São Paulo.
Nas residências em que mora pelo menos uma criança ou adolescente, a incidência do trabalho infantil era de 17,5 por 1.000 antes da pandemia, e passou a ser 21,2 por 1.000 depois da pandemia, de acordo com o Unicef.
“É um fenômeno que quanto mais tempo a família passa em vulnerabilidade mais aumenta a necessidade de colocar crianças para trabalhar. A questão é encontrar uma forma de não colocar as famílias nessas situações. Outro problema será na volta às aulas, o desafio será fazer com que essas crianças voltem a estudar”, disse Danilo Moura, oficial de Monitoramento e Avaliação do Unicef.
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Reprodução/Rede Amazônica
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“Vemos o aumento do trabalho infantil nas crianças e nos adolescentes vulneráveis e isso nos acende um alerta importante. É urgente apoiar as famílias para que tenham alternativas de renda e trabalho no contexto da pandemia. É necessário redobrar o compromisso de proteger cada criança e cada adolescente de toda e qualquer forma de violência, inclusive da exploração do trabalho infantil”, disse Adriana Alvarenga, coordenadora do Unicef em São Paulo.
A entidade analisou dados coletados com as famílias vulneráveis que vivem em nove distritos da Zona Sul (Campo Belo, Campo Limpo, Capão Redondo, Cursino, Grajaú, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Parelheiros e Santo Amaro); oito distritos da Zona Leste (Belém, Cangaíba, Cidade Tiradentes, Guaianases, Itaim Paulista, Mooca, Ponte Rasa e São Mateus); sete distritos da Zona Norte (Brasilândia, Cachoeirinha, Casa Verde, Freguesia do Ó, Jaçanã, Santana, Vila Medeiros); e cinco distritos do Centro (Bom Retiro, Consolação, Pari, República, e Sé).
Doações
Em parceria do o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Unicef fez entregas de doações de kits de higiene, limpeza e alimentos para esses moradores, em particular de favelas e comunidades mais vulneráveis na cidade de São Paulo no enfrentamento da pandemia. Em São Paulo, as doações chegaram a 88 mil famílias, totalizando cerca de 380 mil pessoas.
“O levantamento é importante para orientar políticas que precisam ser realizadas, de forma urgente, para o enfrentamento ao trabalho infantil. Entre essas políticas, estão a identificação das famílias e inserção destas em programas sociais, transferência de renda, acompanhamento sócio-assistencial e políticas emergenciais em razão da pandemia, em especial que atenda as famílias mais vulneráveis, em sua maioria composta por mulheres e negras”, disse a procuradora do Trabalho Elisiane Santos.
A procuradora informou que a Prefeitura de São Paulo foi notificada para a adoção de ações emergenciais durante a pandemia.
Mulheres chefes de família
Segundo a pesquisa do Unicef, os domicílios tinham a predominância de mães e chefes de família, somando 79,1% mulheres ante 20,7% homens. A idade dessas chefes de família variam de 41 a 43 anos. A pandemia também afetou as mulheres no âmbito socioeconômico, pois 44,7% já estavam desocupadas antes da pandemia, em comparação a 36,1% dos homens.
Segundo o estudo, culturalmente a responsabilidade de cuidar dos filhos acaba ficando exclusivamente para as mães. Por isso que, para mudar essa realidade, é fundamental garantir a presença delas no mercado de trabalho, segundo os coordenadores da entidade.
O levantamento também apontou que 30,4% das pessoas responsáveis pelos domicílios nas áreas pesquisadas perderam o emprego por conta da pandemia; 15,7% continuavam trabalhando, mas recebendo menos e apenas 10,9% dessas pessoas estavam trabalhando normalmente. A pandemia impactou o trabalho de 46% das famílias pesquisadas, de acordo com o Unicef.
“É preciso que as políticas públicas olhem especificamente para as mulheres, para as adolescentes grávidas, para as gestantes mães, para que elas tenham apoio de políticas que as ajudem se manter no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, que elas continuem cuidando de suas crianças. Por outro lado, o empregador também tem que ter muita flexibilidade para que essas crianças continuem sendo cuidadas pelas suas mães e elas continuem trabalhando”, afirma Adriana Alvarenga.
“É preciso que abram mais oportunidades de vagas como aprendizes para adolescentes de 14 anos e 18 anos de modo que eles não ingressem no trabalho infantil, fazendo com que os adolescentes e jovens ingressem no mercado de trabalho de forma protegida”, disse a procuradora Ana Maria Villa Real.
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