Observador flagrou a cena em Pirenópolis (GO); predação durou cerca de 15 minutos. Veja vídeo em detalhes de louva-a-deus devorando uma mosca
Um simples graveto sobre uma pedra, quando o assunto é natureza, pode nem sequer ser um graveto. Foi com o olhar preciso e próximo dos insetos que o turismólogo doutorando em Biodiversidade Animal, Douglas Santos, conseguiu filmar e fotografar a ação de um louva-a-deus na predação de uma mosca. Um ataque que foi muito favorecido pela técnica de camuflagem do animal.
O registro foi feito próximo a uma mata de galeria na Serra dos Pireneus, no município de Pirenópolis (GO). O observador não se enganou pela “aparência de graveto” e avistou o animal sobre uma pedra. “Quando me preparava para fotografá-lo, uma mosca se aproximou sem notar que o predador estava imóvel diante dela e, então, o louva-a-deus deu o bote”, conta Douglas.
Louva-a-deus foi flagrado durante a predação de uma mosca; inseto é carnívoro e se alimenta geralmente de outros insetos
Douglas Santos/VCnoTG
Na mistura da emoção com a agilidade do inseto, as primeiras imagens desse ataque ficaram registradas apenas na mente do observador. O desenrolar da história, porém, já faz parte de um acervo de cliques. “Foi muito rápido e preciso, a mosca não teve a menor chance. Então eu comecei a filmá-la enquanto tentava se livrar e o louva-a-deus a devorava ainda viva”, explica o turismólogo.
Segundo o biólogo especialista em louva-a-deus, César Favacho, o animal flagrado no vídeo é uma fêmea de um gênero chamado Thesprotia. “Diferente da maioria dos louva-a-deus, nessa espécie (e em alguns outros parentes da mesma família) as fêmeas não possuem asas, só os machos. Outra característica interessante desse animal é que as pernas dianteiras são como lanças, com vários espinhos que servem para empalar as presas”, explica o especialista.
Patas dianteiras do louva-a-deus apresentam lanças capazes de espetarem e segurarem firmemente as presas
César Favacho/Acervo Pessoal
Ainda de acordo com ele, os louva-a-deus possuem mandíbulas extremamente fortes, o que os torna capazes de mastigar duras carapaças que encobrem alguns insetos. O ambiente onde habitam também favorece o contato com o alimento: áreas próximas ao solo, gramas altas e arbustos baixos. O olhar atento, nesses casos, é determinante para encontrá-los. “Eles ficam mesclados ao ambiente, esperando as presas passarem perto. A camuflagem também serve para se esconderem de predadores (aves, principalmente)”, explica o especialista.
Apesar da semelhança com um graveto, o comportamento não se configura um mimetismo, já que não é característico da espécie o processo de ser entendido como um outro organismo. Porém existem insetos brasileiros que utilizam dessa adaptação com muita eficiência
Dificuldade de flagrar o animal por conta da camuflagem foi registrada pelo observador em Pirenópolis (GO)
Douglas Santos/VCnoTG
Para o turismólogo, flagrar cenas assim possuem um potencial ainda maior em revelar “universos escondidos”. “Embora o mundo dos invertebrados passe despercebido para nós, eles possuem uma variedade incrível de estratégias de sobrevivência, além de cumprirem diversos papéis ecológicos importantes. Registros como este podem sensibilizar as pessoas para enxergá-los como animais e não como pragas ou com repulsa”, avalia.
De mariposas e lagartas a aranhas, os louva-a-deus são predadores capazes de controlar pragas em jardins e plantações
Douglas Santos/VCnoTG
