
Neste período de pandemia, onde alteramos bruscamente nossos hábitos e rotinas, não tem sido fácil os nossos dias. E não é só pelo período de incerteza, de medo que estamos atravessando, e que afetou nossa saúde mental, mas também porque termos dificuldade em mudar nossos hábitos. E esta resistência não é de hoje. Faça o teste: quantas vezes você prometeu começar uma dieta, malhar, parar de fumar, viajar mais, juntar dinheiro, ser mais calmo ou mais assertivo, e tantos outros exemplos, e, se começou, desistiu logo na primeira dificuldade?
Damos várias desculpas pra nos absolver de nós mesmos, da própria preguiça ou falta de perseverança, mas lá no fundo sabemos que é autossabotagem. Enfim, temos planos, desejos, vontades, mas colocar em prática é que são elas. O que nos falta?
Há uma explicação neurológica. Nosso cérebro prefere realizar as tarefas no piloto automático uma vez que há um gasto menor de energia porque tais atividades já estão “gravadas” e, portanto, não necessitam de planejamento. Agir desta forma nos coloca na zona de conforto e, consequentemente, evita alguns incômodos como o medo e a ansiedade tão presentes em processos de mudança. Sendo assim, é possível concluir o óbvio: que todo comportamento automático gera uma recompensa. É o hábito. Mesmo que nos desagrade.
O que fazer?
Ataque o hábito refletindo sobre qual é o gatilho que te leva a repetir tal comportamento negativo e te coloca em uma zona de conforto, num ciclo vicioso. Examine este processo e desconstrua este hábito indesejado adicionando um novo comportamento, e insista nele. Não é simples porque o resultado não é imediato, porém é perfeitamente possível já que, depois de alguns dias, a repetição deste comportamento desenvolverá um novo hábito que se tornará automático, só que com uma recompensa mais saudável.
Toda mudança implica em planejamento, em refletir e, neurologicamente, isto quer dizer o uso intenso da nossa energia cerebral, mas que, em contrapartida, gera novos circuitos, novas ideias e aprendizagem.
Mudar hábitos nos possibilita ver não só a realidade externa sob um ângulo diferente, como também a nossa realidade interna uma vez que tal esforço revela capacidades que até então desconhecíamos em nós. Isto nos fortalece para outros desafios. Desfazer de hábitos negativos nos torna otimistas, fortalece nossa autoestima porque nos dá aquela sensação de “eu consigo”.
Portanto é fundamental refletir o que de fato deseja pra si já que as mudanças não partem do outro e sim de nós. Somos nós que decidimos permanecer como estamos ou não. Modificar hábitos exige que haja um rearranjo interno, alteração do nosso sistema de crenças e a ação em direção a um novo comportamento. Eis o desafio. Eis a recompensa.
Créditos: Joselene L. Alvim- psicóloga