Paciente afirma ter sido espancado em hospital de SP ao ser confundido com morador de rua: ‘Fui humilhado’


Pai de adolescente atendida em hospital de Praia Grande, no litoral paulista, reforça versão da vítima. Unidade nega as acusações e afirma que rapaz não foi agredido. Vigilante afirma que ficou com nariz bastante ferido e perdeu um dente devido a agressão em Praia Grande, SP
Arquivo Pessoal
Um paciente acusa dois seguranças de um hospital em Praia Grande, no litoral paulista, de agredi-lo após ele ser atendido por acreditarem que ele havia batido na porta da sala de atendimento médico e por confundi-lo com um morador de rua. O hospital nega as acusações, porém, uma testemunha afirma ter quebrado uma porta para salvar a vítima, após ouvir pedidos de socorro.
Segundo o vigilante Bergman Willian Alcântara, de 35 anos, o caso ocorreu no Hospital Irmã Dulce, na madrugada desta segunda-feira (10), quando foi ao médico devido a uma inflamação no dedo. Ele relatou à Polícia Civil, durante o registro da ocorrência, que devido à demora no atendimento, um outro paciente, chamado Fabiano, bateu à porta da médica. A profissional teria atendido após cinco minutos e o chamado para a sala dela.
Paciente relata que foi ao hospital devido a um ferimento no dedo, que lhe causava muita dor
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Logo após isso, o vigilante relata que chegaram dois seguranças do hospital e o seguiram até a sala de medicação. “Me senti muito humilhado e transtornado. Enrolei um cobertor na mão, porque a friagem estava fazendo doer mais o meu dedo. Quando cheguei, a mulher do pré-atendimento já perguntou se eu morava na rua, eu disse que não. Nisso, já tinha um segurança, e eles atrás de mim na sala do médico, na sala de medicação. Perguntei por que eles estavam me seguindo e eles falaram que tinham livre arbítrio para fazer o que quisessem”, relata. Depois disso, os seguranças o teriam trancado na sala e começaram a espancá-lo.
De acordo com a vítima, um deles o segurou, enquanto outro o agredia. Ele também relata que um enfermeiro segurava a porta para que ninguém interrompesse as agressões. Ele ficou com ferimentos por todo o corpo.
“Como, em pleno século 21, você é tratado dessa forma? Mesmo que eu morasse na rua, sou um ser humano, não poderia ser tratado daquele jeito. Também trabalho na área de segurança, eles se aproveitaram que eu estava debilitado para me agredir. Foi mais que covardia, foi desumano. Eu não fiz nada”, desabafa.
Conforme registrado no boletim de ocorrência, a Polícia Militar foi acionada, mas não registrou o B.O. PM, e ele não recebeu atendimento médico após as agressões. “Foi o Fabiano quem arrombou a porta e me tirou do espancamento. Quando ele abriu a porta, a mulher dele, ele e a filha me viram no chão, sangrando e com um dente quebrado, de tantas pancadas que eles me deram”, disse o vigilante ao G1.
Testemunha
Segundo o eletricista Witt Fabiano Teixeira Alves, por volta das 21h, a filha machucou o dedo brincando, e na madrugada, passou a sentir fortes dores. Então, seguiram até o Hospital Irmã Dulce. “Quando sentei, já observei esse rapaz fazendo a ficha. Ficamos aguardando o atendimento da minha filha. Depois que ela passou pela triagem, voltamos e vimos esse mesmo rapaz sentado, chorando de dor, mas não mostrou estar alterado em momento algum. Estava na dele”, relata.
De acordo com a testemunha, após uma hora esperando por atendimento, ele questionou a demora para a filha ser chamada e perguntou se a médica não estaria atendendo na emergência. “Voltei, com educação, e bati três vezes na porta da médica. A doutora saiu e perguntou o que estava acontecendo. Como o rapaz estava na minha frente, ele falou ‘que bom que a senhora apareceu’. Aí, ela falou para ele entrar na porta, mas acho que ela achou que ele que tinha batido na porta”, conta.
Quando a filha entrou em atendimento, acompanhada da mãe, ele relata que ouviu um pedido de socorro vindo da última porta. “Eu fui me aproximando e até achei que fosse um policial que tinha pego um bandido e o homem estava resistindo. Aí, ouvi um pedido de socorro e a pessoa falava para chamar a polícia, porque estava sendo agredida. Bati na porta por três vezes e ninguém abria. Eu falei ‘ou abre ou vou arrebentar’, foi quando chutei a porta e vi que tinha um enfermeiro a segurando, dois seguranças batendo e o rapaz caído ao chão, cheio de sangue e sem um dente”, relembra.
Testemunha relata que chutou porta para ajudar vítima, que, segundo ele, era espancada pelos seguranças em Praia Grande, SP
Arquivo Pessoal
De acordo com ele, esposa e filha saíram da consulta e até passaram mal com a situação que viram. Ele relata que questionou o que estava acontecendo, mas ainda não tinha reconhecido que a vítima era o mesmo rapaz que estava sentado, esperando atendimento há pouco tempo. “Em momento algum ele tumultuou nada, ou ofendeu alguém, minha esposa e filha são prova também. Eles até tentaram me intimidar, mas eu não vou deixar de falar a verdade”, conta.
De acordo com o eletricista e a vítima, a Polícia Militar foi acionada e viaturas compareceram à unidade. “Mas eles não levaram o rapaz até a delegacia. Até achei estranho que não fizeram com que eu comparecesse à delegacia, porque depredei a porta para defender ele. Se o hospital alega que é mentira, que mostre as câmeras. É tudo mentira do hospital. Estão fazendo isso porque o enfermeiro segurou a porta para eu não abrir. Foram coniventes com o ocorrido. Assumo tudo que fiz, e fiz para salvar a vida dele. A verdade é uma só, esse rapaz estava inocente em todos os sentidos”, diz.
A vítima tem duas advogadas, Leticia Giribello e Luana Zambrotta. De acordo com Luana, ela o acompanhou para registrar o boletim de ocorrência no 1º DP de Praia Grande, na tarde de segunda-feira, e para realizar os exames após as agressões. “Nesta terça, ele fará o exame no IML, porque na delegacia nos orientaram a levá-lo para atendimento médico nesta segunda, devido às dores. Vamos solicitar todo o prontuário dele no hospital, é um direito do paciente e vamos com isso até o fim”, diz a advogada.
O caso foi registrado como lesão corporal no 1º Distrito Policial de Praia Grande. O G1 procurou a PM, questionando a conduta na ocorrência, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Hospital
Em nota, a direção do Hospital Municipal Irmã Dulce afirma repudiar veementemente quaisquer alegações de agressão ao paciente.
Segundo a unidade, ele deu entrada na madrugada de segunda-feira, apresentando sinais claros de extrema agitação e agressividade. “Apesar de prontamente atendido e encaminhado para assistência médica, o mesmo continuou a demonstrar sinais de descontrole, inclusive desferindo fortes golpes na porta de um consultório médico. Foi necessário até que controladores de acesso se dirigissem ao local, para evitar que o mesmo agredisse uma médica”, diz a assessoria do hospital.
Segundo o hospital, após receber a medicação prescrita durante sua avaliação clínica, o rapaz continuou a proferir agressões verbais despropositadas à equipe local, tentando, na sequência, agredir fisicamente alguns colaboradores, sendo contido pela equipe da unidade. A Polícia Militar foi acionada pelo Irmã Dulce e, ao notar tal fato, o paciente tentou evadir do hospital, quando foi abordado pelos policiais na entrada da unidade. Após esta abordagem da PM, o mesmo se retirou da unidade.
O caso segue em apuração. “Por fim, o hospital repudia qualquer tipo de conflito interpessoal, reforçando constantemente a seus profissionais orientações para que tratem pacientes e acompanhantes com cordialidade e respeito, seguindo os protocolos institucionais, para que, em qualquer situação em que haja necessidade, a Polícia Militar seja acionada”, finaliza a nota.

By Midia ABC

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