Uma paciente morreu enquanto esperava por atendimento para tratar um mioma. Após longa espera por vaga, ela dois dois dias antes da consulta, nos braços do filho. Pacientes reclamam do sistema que regula leitos hospitalares em SP
Pacientes enfrentam dificuldades e chegam a esperar meses e até anos por atendimento na fila da Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross). O SP2 ouviu histórias de pessoas que tentam fazer agendamento de consultas, exames e até cirurgias.
Robson Dantas Vieira espera há dois anos para conseguir passar por um neurocirurgião. Ele precisa da avaliação de uma biópsia de um cisto encontrado após ter feito exames no Hospital das Clínicas, em julho de 2018.
Ele já abriu duas reclamações na Ouvidoria do município, mas a resposta que recebeu não resolve o problema. “A funcionária da UBS me ligou e me informou por telefone que o meu pedido estava parado na Cross, não tinha nenhuma previsão de agendamento, que tinha uma alta demanda para essa especialidade e que tinha que aguardar”, disse Dantas.
Lucimere da Conceição de Santana, de 49 anos, morreu por causa de um mioma. Segundo os filhos, no final de junho a mãe procurou um posto de saúde com muita dor na barriga. Ela chegou a ser internada no Hospital do Grajaú e recebeu encaminhamento para o Hospital Pérola Byington, que é especializado em saúde da mulher e só recebe pacientes do sistema Cross.
O posto de saúde conseguiu uma vaga no sistema para Lucimere ser atendida, mas ela morreu dois dias antes da consulta, nos braços do filho Jonathan.
“Enquanto eu tava dando banho nela, ela ficou com falta de ar, a pressão baixou e ali mesmo no momento que eu percebi que eu tinha perdido minha mãe porque ela não respondia, não me escutava, e junto com os enfermeiros eu coloquei minha mãe numa maca e ela nem reclamou de dor. Ali eu já sabia que eu tinha perdido a minha mãe”, conta Jonathan Santana de Oliveira, filho da Lucimere.
A Cross foi criada pelo governo do estado em 2010 para regular a demanda e a oferta de leitos hospitalares da rede pública. O processo inicia quando um paciente busca atendimento numa unidade de saúde. Lá o médico avalia que é preciso uma atenção especializada que aquele local não dispõe. Para esse atendimento, a Cross é acionada.
Um médico da central recebe o pedido e procura hospitais no estado que ofereçam a especialidade. Se ele encontra um leito disponível, o hospital pode recusar o atendimento, e a central continua tentando até encontrar uma unidade que aceite o paciente. Quando isso acontece, ele é transferido para receber o atendimento de que precisa.
No mês de julho só no módulo ambulatorial foram 867 mil consultas e 577 mil exames, no módulo Urgências cerca de 77 mil regulações de urgência e emergência, sendo cerca de 15 mil regulações de Covid-19 por mês.
A Secretaria Estadual da Saúde informou que o nome do paciente Robson Dantas Vieira não consta no sistema. O último registro foi uma ressonância agendada em 2015, cancelada a pedido do próprio paciente. Sugerimos à reportagem que verifique com a unidade que teria dado encaminhamento para neurocirurgia quais medidas foram tomadas sobre o caso.
A Prefeitura de São Paulo informou que a solicitação de exame dele foi incluída em um sistema de agendamento próprio da capital e que esse sistema segue ordem cronológica e de prioridade clínica.
A Secretaria estadual da Saúde informou ainda que, com relação ao caso da paciente Lucimere da Conceição de Santana, ela deu entrada no Pronto Socorro do Hospital Geral do Grajaú no dia 1º de julho. Fez tomografia e, devido à suspeita de câncer, foi agendada consulta em oncologia para o dia 14 de julho no Pérola Byington.
Ainda de acordo com a pasta, no dia 4 de julho, a paciente retornou ao hospital, já com quadro grave e foi mantida internada. Apesar de todos os cuidados, faleceu em 12 de julho após rápida piora clínica. O hospital se solidariza com a família e está à disposição para esclarecimentos.
Initial plugin text
Pacientes chegam a esperar meses e até anos por atendimento em sistema que regula leitos em hospitais de SP
