Em um dos casos, uma paciente já foi transferida para hospitais de três cidades da região em dois meses, enquanto outro paciente reclamou da dificuldade de conseguir o resultado do teste. Paciente com Covid-19 é transferida para três cidades do Alto Tietê em dois meses
Alguns moradores do Alto Tietê têm enfrentado dificuldades na área da saúde neste momento de pandemia da Covid-19.
Em um dos casos, uma paciente já foi transferida para hospitais de três cidades da região, no período de dois meses, após ter recebido diagnóstico do novo coronavírus. A família diz que, após dias entubada, ela precisa de fisioterapia e de sessões de fonoaudiologia, mas não entende por que foi preciso mudar a paciente tantas vezes de lugar. A outra reclamação, em Mogi das Cruzes, é sobre a demora para conseguir o resultado do teste.
Após ter sentido sintomas da Covid-19, como febre, dor no corpo e na garganta, perda de paladar e de olfato, o encarregado administrativo Johnny Mendes foi ao Hospital Municipal de Brás Cubas, em Mogi, para fazer o exame no dia 1º de agosto. Desde então, ele está isolado em casa, sem trabalhar e sem ter contato com a família.
“No dia que eu fui fazer o exame lá, a moça falou que eram de sete a dez dias. Eu aguardei os primeiros sete dias porque a empresa estava cobrando o resultado. Como eu tinha levado o atestado, tinha que apresentar o resultado, se deu positivo ou negativo. Eu acabei indo ao hospital em sete dias e ela falou que tem que esperar 15 dias. Eu retornei de novo, com dez dias, ela disse que tem que esperar 15 dias. E hoje eu retornei de novo, já faz 16 dias, e ainda não tenho o resultado”, diz o encarregado administrativo Johnny José Mendes.
Agora ele não tem mais sintomas, mas, sem o resultado, Johnny conta que fica preocupado em retornar à rotina normal.
“Você acaba fazendo uma quarentena mentirosa, enganosa. A gente não sabe se a gente está doente ou não. Eu passei o Dia dos Pais trancado, não pude pegar meu filho de cinco meses, por causa da dúvida se eu podia passar para ele ou não. Perdi várias coisas do meu serviço, porque fiquei em casa de atestado. E segunda-feira eu não sei como vou chegar na empresa, vão falar ‘deu positivo ou negativo’. Vou dizer que não sei ainda”, diz Johnny.
Já em relação à demora para o resultado do teste do Johnny, a Fundação do ABC informou que o paciente esteve em 14 de agosto no hospital municipal solicitando o resultado do exame PCR. Apesar de os resultados não serem entregues na unidade, um funcionário da enfermagem se prontificou a imprimir e entregar o documento, para que o paciente não perdesse a viagem.
Contudo, o paciente não quis aguardar e saiu da unidade sem levar o exame. Segundo a fundação, a equipe do hospital segue à disposição do paciente e informa que o resultado continua disponível para retirada na unidade.
Além da demora na entrega dos exames, que acaba atrapalhando a rotina das pessoas, pacientes e familiares da região se preocupam também com o tratamento das sequelas da Covid-19.
Heloísa tem 55 anos e é aposentada. Ela foi diagnosticada com coronavírus no Hospital Central de Arujá e recebeu tratamento na unidade de campanha, onde ficou entubada por 20 dias.
“Do central de Arujá ela foi encaminhada para o Barreto, que é um hospital de campanha, com terapia intensiva. É um hospital preparado para receber pessoas em um estado mais agravado da doença. Lá ela passou o período de entubação, de extubação, foi extubada, recobrou consciência e iniciou o processo de reabilitação. Não havendo recursos, isso por informações médicas, para ela dar continuidade ao processo de reabilitação, ela foi transferida para uma unidade de Suzano, onde supostamente ela teria esse suporte de reabilitação. Em Suzano ela não tinha esse suporte. Então ela ficou 30 dias isolada, sem ter os devidos atendimentos para reabilitação. Depois de 30 dias, ela voltou ao Central novamente, com a alegação de que no Central ela teria essa reabilitação. Lá também ela não teve e mais uma vez ela foi transferida para Mogi das Cruzes agora, sendo obrigada a passar pelo período de exame de Covid novamente, o período de reclusão até que se prove que ela não tem Covid novamente e ela está lá em isolamento até hoje, faz uma semana”, diz o analisa de automação industrial Saulo Noronha da Silveira.
Neste período totalmente isolada da família e do convívio social, a preocupação maior é com a saúde mental da aposentada.
“Tudo que nós colocamos fé é exatamente o que os médicos não falam. Agora poder ter contato com ela, ver as expressões dela, saber se ela está bem, se não está bem, se ela está expressando satisfação com o tratamento, se está indo bem ou não, isso a gente está reprimido de ver. E óbvio, mesmo que a gente conseguisse ver, com certeza a imagem não seria boa. Uma senhora que está acordada há quase dois meses, passado o período de entubação, e não vê os netos, não vê os filhos, não vê a família, com certeza emocionalmente bem ela não deve estar”, diz Saulo.
A família torce agora pela recuperação de Heloísa e quer entender o motivo de tantas transferências. “A nossa cobrança hoje é um esclarecimento da Secretaria de Saúde de Arujá em especial. Aonde errou esse esquema de logística? Por que minha mãe saiu de um hospital de campanha, após ter sido extubada, recobrada a consciência, e foi para outro hospital de campanha? Ela não foi para um hospital comum, ela foi para um ginásio, onde literalmente foi montada uma estrutura para atender pessoas com Covid-19. Por que ela foi para lá e por que ela passou 30 dias lá? Por que, se de imediato os médicos perceberam que não tinham a especialidade que ela precisava lá, por que de imediato não encaminharam ela: ‘olha, não tem o que fazer aqui, ela precisa de especialidades para recobrar digestão, recuperar as vias aéreas, voltar a se alimentar via oral, fazer fisioterapia pulmonar para tirar a secretividade, poder recobrar a movimentação na fisioterapia física. Enfim, por que seguraram ela 30 dias?Depois por que mandaram novamente para o Central, dizendo que lá teria as especialidades, quando no Central não tem. E se o Central mandou para Mogi, por que não mandou os laudos, não mandou todo o histórico médico dela para provar que ela já venceu a Covid e fazer ela entrar na ala da Covid de novo?
Em nota, a Prefeitura de Suzano informou que, em 6 de julho, o município de Arujá solicitou a transferência de Heloísa para o hospital de quarentena de Suzano, por apresentar, na época, diagnóstico de pneumopatia, ou seja, uma doença que afeta os pulmões, por Covid-19.
O texto diz que a paciente apresentava histórico de internação no hospital de origem desde 11 de junho. A Prefeitura informou ainda que ela chegou a Suzano com baixo nível de consciência, já utilizando antibióticos para tratamento de infecções hospitalares e/ou por bactérias multirresistentes. Por isso, a paciente ficou isolada dos demais, em uma ala exclusiva.
Neste período, foi tratada por equipe multidisciplinar, inclusive com fisioterapia respiratória e motora. A paciente respondeu de forma positiva e passou a receber medicamentos mais adequados, apresentando melhoria no estado geral.
A Prefeitura de Suzano explica ainda que foi solicitada à Prefeitura de Arujá a transferência da paciente para o município de origem, para o prosseguimento do tratamento. A transferência ocorreu em 3 de agosto.
A Prefeitura informou também que, desde o primeiro momento em que a paciente chegou a Suzano, a família foi informada sobre toda a capacidade da unidade – e que a mesma não tem o foco em terapia fonoaudiológica. Contudo, as equipes do hospital de quarentena não mediram esforços no tratamento, segundo a Prefeitura, comprovado pela evolução positiva no quadro de saúde da paciente.
Já a Secretaria de Saúde de Arujá informou que Heloísa foi transferida para o hospital de quarentena de Suzano com indicação para concluir o tratamento da Covid-19 na enfermaria, tendo em vista que se encontrava em um quadro estável e não precisava mais de tratamento na UTI, e que, depois de concluir o tratamento em Suzano, a paciente retornou para a rede de saúde de Arujá para tratar uma infecção específica.
Segundo a Prefeitura, no PA Central, ela deu continuidade no tratamento de uma bactéria multirresistente, mas precisava de atendimento e isolamento adequados. Por isso, foi inserida na Cross e seguiu para Mogi, no Hospital Luzia de Pinho Melo. A Prefeitura informou que o atendimento multidisciplinar com fonoaudiólogo e fisioterapeuta é feito em unidades de saúde com outro perfil de atendimento, diferente do PA Central.
Ainda sobre o caso de Heloísa, a produção da TV Diário pediu uma posição para o Hospital Luzia de Pinho Melo e aguarda a resposta.
Pacientes no Alto Tietê reclamam de dificuldades com resultado de teste e com tratamento para Covid-19
