Primavera é período de renovação e momento ideal para aprender com a natureza


Em crônica, jornalista Ciro Porto aborda reflexos da chegada da nova estação na vida selvagem e como podemos tirar lições a partir do ciclo das borboletas. Alimentação das borboletas não se restringe ao néctar
Rudimar Narciso Cipriani / TG
A primavera chega com os dias mais longos que as noites. O calor aumenta e a chuva também. A vida explode em cores, flores, beija-flores…Os bichos, de modo geral, renovam a vida, iniciando a fase de reprodução. A primavera é época de renovação e transformação…
Aproveitando o clima de mudança, desta vez não vou escrever sobre aves. Mas também não vou deixar, é claro, de falar sobre um bicho que voa: a borboleta, inseto capaz de nos encantar, pelas formas e cores e nos intrigar com um fenômeno natural que bem simboliza a transformação desta época: a metamorfose.
A metamorfose não é um fenômeno exclusivo do mundo dos insetos, é verdade. Os anfíbios também a realizam, mas com as lagartas e as borboletas esse fenômeno se mostra mais intrigante. Não vemos com bons olhos as lagartas, ora uma praga devoradora de folhas, ora perigosas taturanas. Já borboletas e mariposas quase sempre as tratamos como caprichos da natureza, feitos para dar ainda mais beleza aos jardins floridos.
Sabe-se de mais de 3,4 mil espécies de borboletas no Brasil
Rudimar Narciso Cipriani / TG
A estimativa é de que existem no mundo cerca de 24 mil espécies de borboletas e outras 140 mil de mariposas. Não há diferenças entre ambas do ponto de vista técnico, mas mudam algumas características e comportamentos.
As borboletas em geral têm hábitos diurnos, são mais coloridas, têm o corpo mais fino e, quando descansam com as asas para cima. As mariposas são noturnas, apresentam corpo maior, são pouco coloridas e, ao descansarem, estendem as asas para os lados do corpo.
Se as cores e as formas das borboletas chamam nossa atenção, a metamorfose desafia nosso entendimento. Ao presenciarmos tal fenômeno parecemos estar diante de um milagre ou de uma mágica.
E a vida é realmente um milagre e ao mesmo tempo mágica. Afinal, uma lagarta depois de devorar a própria casca do ovo, como apetite voraz, consome várias folhas, utilizando fortes mandíbulas para cortar e mastigá-las. Parecem insaciáveis nessa tarefa de acumular energia para a próxima fase da vida. Quando param de comer procuram a parte de baixo de uma folha ou galho e se enrolam em uma capa protetora, a crisálida.
Reprodução das borboletas dá origem aos ovos que são depositados nas folhas das plantas usadas como alimento pelas lagartas
Gabriela Brumatti/TG
A partir daí, a antiga lagarta vai se dissolvendo. Células se destroem, transformam-se e se reorganizam em um novo ser vivo! Tudo por ação de apenas dois hormônios!
Uma vez terminada a metamorfose, a borboleta eclode, deixando os casulos. As asas úmidas e dobradas levam algumas horas para endurecer e dar condições ao inseto de voar. Mas depois, tão logo levantam voo, iniciam o processo de acasalamento.
Fecundadas, as fêmeas depositam os ovos em folhas de plantas, hospedeiras, escolhidas para servir de alimento para as novas lagartas, por sua vez empenhadas em acumular energia para se transformarem em novas borboletas.
Pode parecer que as lagartas adquirem a forma de borboleta apenas para reproduzirem, o que é uma verdade parcial, pois as borboletas são responsáveis, também pela reprodução de várias plantas. Quando se alimentam do néctar das flores, atuam como agentes polinizadores importantíssimos.
Algumas espécies de plantas dependem exclusivamente de determinadas borboletas com sua trombas longas (probócides), com mais de 30 centímetros, usadas para buscar o néctar no fundo das flores tubulares. Ao visitarem várias flores, as borboletas involuntariamente coletam e transportam o pólen entre uma planta e outra.
Algumas borboletas apresentam até “transparências”
Rudimar Narciso Cipriani / TG
Se as aves nos lembram que a primavera é época de renovação da vida, as borboletas no mostram que também e época de transformação. E cada um de nós pode fazer uma metamorfose, não física como as lagartas, mas não menos maravilhosa. Podemos mudar nossas atitudes.
Quem sabe perceber que em nossas tarefas do dia a dia, na nossa busca pela sobrevivência, contribuir para algo maior. Todos nós sabemos do que o mundo precisa para ser melhor, mas quase sempre nos esquecemos que somos agentes dessa transformação. Se cada um fizer a sua parte, o todo ou o mundo se transforma como consequência.
Para terminar, uma frase do livro Ilusões, de Richard Bach: “O que para a lagarta parece o fim do mundo, para o mestre é apenas a borboleta”. Que nesta primavera possamos nos tornar mestres de nós mesmos, deixando de nos arrastar como lagartas que enxergam apenas a comida e nos transformarmos para, num voo alto, enxergarmos a amplitude do horizonte cheio de oportunidades.

By Midia ABC

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