Muitos pais deixaram de pagar esses profissionais, que não conseguiram se cadastrar no auxílio emergencial. Uma das reivindicações é a votação de projeto de lei que abriria linha de crédito. Transportadores escolares do Alto Tietê enfrentam crise econômica com aulas suspensas
Um dos assuntos mais discutidos nos últimos dias é a volta às aulas. Trata-se de uma questão que afeta alunos, pais e também os motoristas do transporte escolar. Afinal, esses profissionais perderam renda com a falta de pagamento das mensalidades, uma vez que os estudantes não estão indo às escolas. E esse cenário de salas vazias pode durar mais tempo que o previsto pelo Estado.
A administradora de empresas Sandra Almeida é mãe de duas meninas. Uma das filhas está no sexto ano e estuda em escola particular. A outra filha, mais velha, já está no ensino médio e estuda na rede pública. Sandra faz parte dos mais de 45 mil pais ouvidos em toda a região sobre a retomada das aulas.
“Eu respondi que não deixaria voltar, até porque está funcionando. Eu sei que para todo mundo é uma novidade. Ninguém nunca passou por isso. Eu acho que a gente realmente tem que se adaptar e voltar com segurança”.
Com isso, a rotina de estudo continua dentro de casa. Mas a Larissa, por exemplo, ia para a escola de van escolar. Mesmo com esta nova rotina, Sandra não deixou de pagar o transporte.
“O pessoal não tem ajuda do governo. É uma forma de ajudar, de manter. Acho que todos aqueles que podem, mesmo que não seja com 100%, que ajudem”.
Mas são poucos pais que decidiram fazer isso. De acordo com a representante dos motoristas de van escolar de Mogi das Cruzes, Cláudia Saturnino, 80% dos pais deixaram de pagar as mensalidades.
“A maioria dos pais acaba até não dando retorno. Nós estamos passando por situações de enviar mensagens, tentar negociar, e ele simplesmente visualiza as mensagens e não nos retorna. Mas tem aqueles outros que passaram por alguns problemas também, entraram em contato, e nós conseguimos manter esse acordo, de repente com um bom desconto. Conseguimos negociar com o pai”.
Gerson de Godoy transportava 50 alunos. Hoje, só seis continuam pagando. O transportador até fez um acordo com os pais, para que paguem apenas uma taxa de manutenção de vaga. E é com esse dinheiro que ele tem conseguido pagar algumas contas.
“Contas de água e luz. Contador, funcionário. Foi usado o recurso, por lei, de redução proporcional ou afastamento por suspensão de contrato, mas isso é durante quatro meses. Meu funcionário já expirou esse prazo e volta agora para setembro, outubro. E eu tenho que pagar esse funcionário”.
Profissionais do transporte escolar foram impactados pela pandemia
Reprodução/TV Diário
Na região, a projeção para a categoria não é favorável. Um levantamento feito pelas dez cidades da região, a pedido do Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat), chegou à conclusão de que a grande maioria é contra a volta às aulas presenciais neste ano.
Com as salas de aula por mais tempo vazias, os impactos podem ser ainda maiores. Hoje, Mogi das Cruzes tem 134 transportadores cadastrados na Prefeitura, mas alguns já desistiram e disseram que não vão retomar o serviço.
A categoria não conseguiu se cadastrar para receber o auxílio emergencial do Governo Federal e pede mais atenção do poder público. Uma reivindicação seria a votação do projeto de lei 3.332, que abriria uma linha de crédito aos transportadores escolares em todo o país. O texto foi apresentado aos deputados federais em junho e até agora não foi votado.
A liberação de crédito pode dar um pouco mais de fôlego para a categoria, que está completamente parada. Mesmo que queira, Gerson não pode usar a van para outra atividade na cidade.
“Já solicitamos à Prefeitura, mas não tivemos essa autorização para uma atividade alternativa. Por exemplo, transportar cargas, eletrodomésticos de lojas, fazer entregas de delivery com a van. Você não pode usar seu carro para trabalhar, então fica difícil ter receita”.
Sobre essa autorização citada por Gerson, a Prefeitura de Mogi das Cruzes disse que tem questões sobre o transporte alternativo sendo avaliadas juridicamente.
Sobre o projeto de lei 3.332, ele tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados. A última ação do legislativo foi no dia 5 de agosto. De acordo com o site da Câmara, a matéria não foi apreciada pelos parlamentares por causa do encerramento da sessão.