Projetos que alteram a paisagem da cidade de São Paulo serão votados pelos próximos vereadores


Plano Diretor e Lei de Uso e Ocupação do Solo serão tema de debate na Câmara Municipal. Há 18 projetos de intervenção urbana em curso. Mudanças urbanísticas importantes são desafio dos vereadores eleitos a partir de 2021
As vagas de garagem estão virando casas no conjunto habitacional Cingapura Madeirite, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. Os donos vendem o espaço por até R$ 25 mil, e os compradores erguem construções irregulares nos espaços. Com isso, os prédios que vieram para reurbanizar a antiga comunidade nos anos 90 vão sendo engolidos pelo adensamento de moradias irregulares.
Para corrigir o crescimento desordenado de São Paulo, a cidade conta com diferentes mecanismos de intervenção urbana. A mudança da paisagem do município passa pela Câmara Municipal. Os 55 vereadores eleitos em novembro na capital terão pela frente temas como a revisão do Plano Diretor, a Lei de Uso e Ocupação do Solo e os Projetos de Intervenção Urbana.
Um desses projetos é justamente o da Vila Leopoldina. Não muito longe do Cingapura Madeirite estão as comunidades do Nove e da Linha, que não têm nem a estrutura básica que o conjunto habitacional conquistou. “Se chove demais, inunda”, diz a moradora Adriana Borges da Silva.
A comunidade do Nove surgiu há mais de 40 anos. No começo eram alguns barracos de madeira, depois mais gente foi chegando e surgiram as casas de alvenaria. O projeto de intervenção urbana para toda essa região chegou à Câmara em 2019. Todo plano que envolve remoção de casas e readequação de ruas tem que ser aprovado pelos vereadores.
Moradias irregulares na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo.
Reprodução/TV Globo
José Ednaldo Ribeiro da Silva comprou sua casa no local há 20 anos, mas diz estar disposto a sair, vê-la ser derrubada e esperar subir um prédio. “Acho que é o melhor para todos”, afirma o ajudante de motorista. “Nós estamos lutando. Depende dos vereadores também.”
A manicure Maria Cristina da Silva diz ter esperança de um dia “ter uma moradia decente”. “Todo mundo aqui trabalha. A gente tem salário, pode pagar as nossas contas, os nossos impostos.”
A várzea do rio Tamanduateí também depende da Câmara para a aprovação de um projeto que prevê drenagem e novas construções. Se aprovado, Mooca, Cambuci, Parque da Mooca, Ipiranga, a região da avenida Henry Ford, Vila Prudente e Vila Carioca serão contemplados. São áreas que há décadas convivem com enchentes.
Para a socióloga Lara Mesquita, é relativamente comum que esses projetos demorem para caminhar. “A gente tem que pensar que a readequação da Vila Leopoldina vai impactar todo o entorno. Acaba afetando toda a cidade, porque vai afetar o transporte público, vai afetar o comércio, a indústria. Essas coisas demandam sim, muito debate”, diz.
Esse debate será conduzido pelos vereadores que serão escolhidos em novembro. Eles precisam fazer a revisão do Plano Diretor, que define como a cidade vai crescer nos próximos anos. Outra atribuição é votar a Lei de Uso e Ocupação do Solo, que decide por exemplo a altura dos prédios rua a rua, bairro a bairro, de acordo com o determinado pelo Plano Diretor.
Perdizes, na Zona Oeste, viu sua paisagem mudar depois da revisão dessa lei em 2016. “Sou moradora do bairro há 40 anos. Hoje a gente vive entre paredes: prédios, prédios e prédios. Minha rua nunca foi isso, tem um sendo construído aqui em frente, outro sendo construído lá”, diz a coordenadora pedagógica Maria Cristina Jardim, moradora do bairro.
Segundo o mestre em planejamento urbano Igor Pantoja, da Rede Nossa SP, o momento de escolher o vereador é o momento de escolher o futuro da cidade. “Aquilo que você sente na pele cotidianamente na vida urbana é muito fruto da cidade que foi planejada não só por quem está na gestão municipal, mas pelos vereadores que afinal de contas são quem aprovam essas legislações”, diz.
“Se a gente quer uma cidade menos desigual, uma cidade mais justa por exemplo, é fundamental eleger candidatos e candidatas que tenham compromisso com esse futuro.”
Visão aérea da cidade de São Paulo
Reprodução/TV Globo
Projetos de intervenção urbana em curso em São Paulo
Ferramenta é utilizada para ordenar e reestruturar áreas subutilizadas e com potencial de transformação na cidade. Veja em que estágio está cada projeto:
Aprovados: Anhembi, Pacaembu, Terminal Princesa Isabel e NESP (Perus)
Aguardam aprovação na Câmara Municipal: Arco Jurubatuba, Bairros Tamanduateí, Arco Pinheiros e Vila Leopoldina-Villa Lobos
Em fase de consolidação para envio à Câmara: Setor Central
Em discussão pública: Arco Tietê
Em elaboração: Minhocão, Jockey Club e Ginásio Ibirapuera
Em avaliação de desenvolvimento: Nações Unidas e Vila Olímpia
Suspensos: Terminal Capelinha, Campo Limpo e Rio Branco
VÍDEOS: Conheça a Câmara de SP
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By Ellena Gomes

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