Quatro das seis maiores cidades da região de Piracicaba têm queda em índice de crimes violentos


Melhor taxa foi registrada em Nova Odessa, enquanto Capivari e Cosmópolis tiveram aumento. Delegado e coordenador de instituto alertam sobre crimes sexuais e violência doméstica. Quatro das seis cidades mais populosas da região de Piracicaba (SP) tiveram redução em um índice que mede a exposição a crimes violentos (IECV), produzido pelo Instituto Sou da Paz.
Lançada na segunda-feira (17), a edição deste ano do índice é calculada a partir da média ponderada de três subíndices: crimes letais (homicídio e latrocínio), crimes contra a dignidade sexual (estupro) e crimes contra o patrimônio (roubo de veículo, de carga e de outros tipos de bens).
O IECV varia de 0, melhor resultado possível, a 100, que é o pior resultado. São analisados, segundo esses critérios, os 139 municípios do estado com ao menos 50 mil habitantes.
Entre os que têm esse porte na região, Nova Odessa (SP) apresentou o melhor índice no primeiro semestre deste ano, com 1,2. Nos primeiros seis meses de 2019, o IECV da cidade era 2,69.
Já Capivari (SP) e Cosmópolis (SP) tiveram aumentos na taxa de incidência destes crimes. Enquanto na primeira o índice subiu de 2 para 2,02, em Cosmópolis ele aumentou de 4 para 4,15, o maior entre as cidades avaliadas no aglomerado.
Nesta última, houve um aumento de 60% nos casos de homicídio no primeiro semestre de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019. Foram cinco crimes do tipo nos seis primeiros meses de 2019, enquanto neste ano foram oito.
Em maio, uma operação envolvendo polícias Civil e Militar e Guarda Civil Municipal cumpriu 14 mandados de busca e apreensão relacionados a três homicídios ocorridos entre abril e maio deste ano na cidade, devido a desavenças entre gangues envolvendo a ex-namorada de um dos membros.
Viaturas policiais durante cumprimento de mandados de busca e apreensão em Cosmópolis, em maio
Divulgação/ Polícia Civil
“O trabalho de inteligência da policia tem sido muito atuante e primordial para desvendar organizações criminosas e impedir a prática de crimes graves, como assalto a bancos e o tráfico de drogas. O momento atual não se compara a nenhum outro já vivenciado, seja na situação econômica, social e política, e os desafios são constantes”, avalia o delegado seccional de Piracicaba, Américo Sidnei Rissato.
Reflexos da quarentena
O delegado observa que o comportamento da sociedade mudou “significativamente” durante a quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus.
“Esse modelo de comportamento imposto, a princípio, traz uma redução de crimes patrimoniais, por exemplo, onde a circulação de pessoas nas ruas e a facilidade da ação dos criminosos ficam prejudicados, em razão do comércio fechado”, aponta.
Índice de exposição a crimes violentos na região de Piracicaba
Coordenador do Instituto Sou da Paz, Leonardo Carvalho aponta que cada região apresenta um cenário diferente de criminalidade diante da pandemia, mas também corrobora a influência do isolamento social na queda em número de crimes patrimoniais.
“O IECV considera o ‘roubo – outros’, ‘roubos de veículos’ e ‘roubos de carga’, então, quando a gente olha a síntese desses três tipos, a gente vai vendo que teve uma diminuição em todos municípios da região de Piracicaba que é reflexo da diminuição de pessoas circulando”, aponta.
Crimes sexuais e subnotificação
Apesar de apresentarem queda no índice geral, Piracicaba e Santa Bárbara d’Oeste (SP) tiveram aumento na taxa de crimes sexuais. Na primeira, o IECV subiu de 1,67 para 1,8, enquanto na segunda a alta foi de 1,34 para 1,88.
Em relação a este tipo de violência, Carvalho alerta para a possibilidade de aumento na quantidade de subnotificações – casos não denunciados – em virtude da pandemia.
Isso porque, segundo ele, instituições como escolas e instituições de saúde têm o potencial de detectar e comunicar esses crimes às autoridades.
“E, nesse período de pandemia, quando escolas estão fechadas e instituições de saúde estão trabalhando em um ritmo totalmente diferente, a gente fica preocupado que essa capacidade de identificar e comunicar as autoridades policiais tenha sido prejudicada”, explica.
Patrulha Maria da Penha, em Piracicaba: instituto demonstra preocupação com violências doméstica
Felipe Ferreira/ Prefeitura de Piracicaba
O pesquisador também lembra que a maior parte destes atos são cometidos por pessoas conhecidas da vítima, no círculo familiar ou de amizade, o que pode ser agravado pelo maior tempo em casa.
“Pode gerar uma situação de maior vulnerabilidade das vítimas e maior dificuldade que o crime seja comunicado. Fica mais difícil para a vítima acessar uma delegacia ou acionar a polícia”, diz o coordenador do instituto.
Ele sugere que haja uma rede interligada de atendimento às vítimas. “São pessoas que estão muito fragilizadas e precisam encontrar acolhimento no momento de denunciar esse crime e ter acesso a uma rede de proteção que não envolve só ação policial. É preciso de estrutura social e que o Judiciário também tenha capacidade de acolher essas vítimas”.
Violência doméstica
Rissato aponta que o mesmo cenário pode ocorrer em relação a outros tipos de violência doméstica.
“A convivência forçada, em estado de ânimo alterado e amedrontado, coloca as mulheres e crianças em situação de subjugação dentro de casa, dificultando a denúncia e tomadas de medidas de proteção, pois a violência pode ser vista nas escolas onde as crianças estudam e nos locais de trabalho das mulheres”, diz o delegado.
Ele aponta uma “preocupação constante” em criar em mecanismos de auxilio às mulheres como, por exemplo, as formas de pedido de socorro em farmácias e supermercados (com um “x” na palma da mão), o disque denúncia e, recentemente, a elaboração de boletins de ocorrências pela internet.
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By Midia ABC

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