Vendedora com Covid-19 fala sobre assédio sexual de médico em SP: ‘Anti-ético’


Jovem de 27 anos procurou as autoridades após ver denúncia no G1 falando sobre o mesmo médico. Profissional, que foi afastado, teria se insinuado e feito perguntas indiscretas durante a consulta. Jocimari Fonseca afirma que escutou mesmas coisas de médico que é acusado por outra paciente de importunação sexual em São Vicente, SP
Arquivo pessoal
Após uma recepcionista de 29 anos denunciar um caso de importunação sexual sofrido durante uma consulta médica em São Vicente, no litoral de São Paulo, outra vítima relatou ao G1, nesta quarta-feira (12), que viveu situação parecida. A assistente de loja Jocimari Fonseca, de 27 anos, que está com Covid-19, conta que também ouviu do profissional que estava estressada e precisava ‘dar uma relaxada’. O médico foi afastado de suas funções, segundo a prefeitura.
Jocimari conta que também foi ao Centro de Combate ao Coronavírus após apresentar sintomas da Covid-19. Chegando ao local, após ser recebida pela equipe da recepção, passou pela triagem e, posteriormente, passou pela consulta com o médico.
“Quando entrei ele falou que minha pressão estava alta e que poderia ser emocional, que eu estava estressada e precisava relaxar. Falei que não estava entendendo porque relaxar, então ele se levantou, ficou perto de mim, e falou que oportunidade eu tinha e questionou se me faltava vontade e coragem, exatamente como aconteceu com a outra paciente”, conta.
Após o médico importuná-la, ela relata que demonstrou estar brava com a situação. “Eu então perguntei se era só isso e se eu poderia sair. Ele disse que ‘já que você não é [corajosa], era só aquilo mesmo’ e que eu poderia ir embora”, diz.
Ela saiu da sala em seguida e afirma que comentou com a recepção sobre a postura do médico. Como teria que retornar após cinco dias para fazer o exame, esperou para ver se ele teria a mesma conduta, mas após saber sobre o caso da Vivian, resolveu voltar ao local e relatar por escrito o que tinha vivido.
A mulher relata que tentou registrar boletim de ocorrência pela Delegacia Eletrônica durante toda esta semana, mas afirma que não conseguiu, porque o sistema apresenta erro no registro. Devido ao diagnóstico positivo para o novo coronavírus que recebeu ao voltar no Centro e fazer o exame, ela relata que está aguardando o fim da quarentena para comparecer pessoalmente na delegacia.
Apesar disso, ela afirma que escreveu uma carta a próprio punho relatando o ocorrido e entregou no Centro de Combate ao Coronavírus, onde afirma ter recebido todo apoio da equipe para seguir com a denúncia. O G1 questionou a Prefeitura de São Vicente sobre o recebimento da carta, mas não teve resposta.
“Eu acho que minha pressão nem estava alta e foi um pretexto para ele chegar no assunto. Assim que entrei na sala já percebi que ele estava me olhando de forma diferente, me regulando, e não levava a sério o que eu estava falando. Eu tentava falar da Covid-19 e ele mudava para assunto de relacionamento, perguntou se eu era casada. Mas a ficha não estava caindo. É difícil de acreditar. Até então achei que ele estava em um dia ruim, mas depois que vi que teve outra vítima, vi que era falta de caráter, uma pessoa anti-ética”, conta.
A denúncia da outra paciente foi o que incentivou a assistente de loja a levar à tona o que também viveu. “Achei que tinha sido uma exceção e pensei em não fazer nada. Elogiei muito a Vivian pela coragem dela, se eu não tivesse visto a história dela, iria deixar passar, porque quantas vezes já não deixamos passar”, relata.
Denúncia
Nesta terça, o G1 entrevistou a paciente Vivian Herculano Salvatore. Ela contou que, após sentir sintomas relacionados à Covid-19, também procurou atendimento médico no Centro de Combate ao Coronavírus da cidade e o médico teria dito que ela não estava com o novo coronavírus, mas sim que estava sob estresse. O profissional ainda teria indagado seus passatempos e afirmado que ela precisava desestressar, parando em sua frente e dizendo se ela não tinha vontade de “calor humano”.
“Ele foi afastado de lá, mas pode continuar em outros lugares fazendo isso, não foi o suficiente ainda. Mas foi um primeiro passo importante, espero que as pessoas que passaram pelo mesmo possam denunciar. Estou determinada a ir até o fim para ele ter o que merece, vou lutar para proteger outras mulheres. Ele é uma pessoa sem escrúpulos, se aproveita das pessoas que estão passando por um momento ruim. Só não quero que outras pessoas passem por isso”, acrescenta Vivian.
O caso de Vivian é investigado como crime de importunação sexual na Delegacia de Defesa da Mulher de São Vicente.
Recepcionista denuncia caso de importunação sexual durante consulta médica em São Vicente, SP
Arquivo Pessoal
Conselho Regional de Medicina
Em nota, o Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo (Cremesp) informa que não foi oficialmente acionado, até o momento, e que poderá abrir sindicância para investigar se houve infração ao Código de Ética. O Conselho relata também que o médico mencionado não responde à qualquer outra sindicância, atualmente.
Caso seja instaurada sindicância para o caso e a fase da investigação aponte indícios de infração ética – que consiste no descumprimento de algum artigo do Código de Ética Médica – é aberto processo ético-profissional. Concluída a fase de instrução do processo ético-profissional, o próximo passo é o julgamento.
Após o julgamento, sendo constatada a culpabilidade, os Conselhos Regionais de Medicina podem aplicar cinco penalidades*, previstas no Artigo 22 da Lei 3.268/57:
PENA A – advertência confidencial em aviso reservado;
PENA B – censura confidencial em aviso reservado;
PENA C – censura pública em publicação oficial;
PENA D – suspensão do exercício profissional de 01 (um) a 30 (trinta) dias e;
PENA E – cassação do exercício profissional (ad referendum do Conselho Federal de Medicina).
Até o trânsito em julgado, o registro de um profissional médico permanece ativo. Caso o Conselho constate potencial de lesividade social, poderá aplicar uma interdição cautelar, suspendendo o registro.
Ainda segundo o Conselho, depois que um processo é julgado no âmbito do Cremesp, ele passa pelas fases subsequentes: vista do acórdão; contra razões (em caso de processo com denunciante); julgamento pelo Conselho Federal de Medicina (caso seja apresentado recurso); e, finalmente, a aplicação de pena. Após essas fases, o processo é arquivado.
O G1 tentou contato telefônico com o médico, em seu escritório de atendimento, mas não foi atendido até a última atualização desta reportagem.
Crime aconteceu durante consulta no Centro de Controle de Coronavírus em São Vicente, SP
Divulgação/Prefeitura de São Vicente

By Midia ABC

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