Vídeo que mostra teste de luzes e fontes de água no Anhangabaú viraliza nas redes e obra recebe críticas: ‘descaracterizou’


Imagens foram gravadas durante testes na área, que passa por obras de revitalização e deve ser reinaugurada no dia 30 de outubro. Internautas também comentaram sobre custos e necessidade de manutenção constante. Vídeo que mostra novo Anhangabaú colorido e parcialmente alagado viraliza e gera críticas
Um vídeo que mostra um teste em fontes de água e iluminação do novo Vale do Anhangabaú, no Centro da cidade São Paulo, viralizou nas redes sociais. Os internautas criticam as imagens que mostram a esplanada na iminência da reinauguração, prevista para 30 de outubro.
As obras de reforma e revitalização da área começaram em julho de 2019, faltando pouco mais de um ano para o fim da gestão Bruno Covas (PSDB), e têm enfrentado os contratempos da pandemia do coronavírus, que demandaram aditivos contratuais e aumento de preços, além da oposição de urbanistas e entidades, que apontam a escassez de diálogo na implementação de um projeto deste porte, que reconstrói o cartão-postal da capital paulista.
No último fim de semana, um vídeo gravado durante alguns testes no local vazou e viralizou nas redes. As imagens registradas durante à noite mostram os 28 novos pontos de iluminação acesos na esplanada, no viaduto do Chá e nos postes, nas cores rosa, verde e azul. O circuito de águas no mesmo espaço, que deveriam apenas molhar o piso e recolher o excesso pelos ralos, aparentemente não funciona como deveria, pois a área fica parcialmente alagada.
“Essas luzes/água/fonte serão um mega elefante branco porque precisam de manutenção constante, em uma região onde certamente terá vandalismo. Descaracterizou todo o Anhangabaú. Até as árvores plantadas criarem sombra vai ser um espaço super quente (concreto), além do óbvio gasto de dinheiro público desnecessário. O Anhangabaú precisava de uma revitalização, e não uma reforma”, comentou uma internauta, que recebeu mais de 400 likes nas redes sociais.
Entidades e especialistas em urbanismo concordam com algumas dessas críticas. “Me parece exagerada a proposta das fontes de alta tecnologia para criar um chafariz. Não acho necessário para tornar o lugar atraente, e é um sistema muito caro para adquirir e para manter. Deveria era ter grandes gramados para tomar sol no centro da cidade”, opinou o paisagista Ricardo Cardim.
“Algumas pessoas argumentam que não daria para plantar sobre uma laje, mas então eu digo: ‘vira o pescoço e olha para a prefeitura, para a floresta em cima da cobertura. Como não pode? Está ali há 40 anos. Desculpe. Foi uma opção deliberada de fazer uma esplanada árida, parecida com um sambódromo, no centro de São Paulo, que já é tomado de ilhas de calor, conforme o atlas ambiental do município. Falta árvore no miolo”, continuou.
O G1 perguntou se a Prefeitura de São Paulo gostaria de se posicionar sobre o vídeo e as críticas, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Internautas repercutiram nas redes imagens do Vale do Anhangabaú colorido e parcialmente alagado durante testes nos sistema de água e luz
Redes Sociais/Reprodução
Luzes, água e verde
A reforma do Anhangabaú pretende ser um projeto de revitalização de uma área há muito tempo degradada. Segundo a Prefeitura de São Paulo, o trabalho contempla, entre os outros aspectos, a melhoria do microclima da região e da segurança.
Segundo a gestão municipal, o projeto prevê que a iluminação pública no trecho seja automatizada com um sistema LED, visando economia de energia e aumento da segurança. Serão 28 pontos de iluminação na esplanada, 105 sob as árvores e 217 na escala do pedestre. 
Já a utilização da água no projeto, segundo a gestão Covas, tem papel na melhoria do microclima da região: trata-se de um circuito fechado, em que a água deveria se espalhar pelo piso, ser absorvida pelos ralos, enviada a filtros de limpeza e tratamento, para então retornar ao aspersor. O sistema de águas deve estar conectado a uma rede subterrânea, que envolve questões de drenagem.
O paisagismo da área também é impactado pela proposta de áreas verdes neste projeto. A Prefeitura diz que cortou 78 árvores da área, manteve 355 e plantou outras 177 mudas nativas, de modo que o novo Anhangabaú contará com 532 árvores.
Dentre os exemplares removidos, a Prefeitura de São Paula esclarece que a proposta era afastar a vegetação da região dos túneis para permitir um crescimento saudável, e que entre as 78 árvores cortadas, 62 foram transplantadas para outros locais do centro da cidade, como Praça Doutor João Mendes, Bosque das Maritacas e Viaduto Diário Popular.
A expectativa da Prefeitura é a de que a gestão da área seja feita por uma empresa, por meio de uma concessão por 10 anos, período em que a concessionária poderá explorar comercialmente o espaço em eventos que tragam público e quiosques onde as pessoas poderão consumir.
Obras no Vale do Anhangabaú só devem ficar prontas em fevereiro de 2021
“Eu acho que o Jan Gehl, arquiteto dinamarquês que propôs a reforma nesses moldes, contribuiu para o urbanismo no livro ‘Cidade para Pessoas’, mas ele não trabalha com conceitos ambientais, a não ser na escala simbólica da água e dos aspersores. O resultado são árvores trocadas por concreto, com espelhos d’água emulando rios urbanos tamponados”, opinou Ivan Maglio, engenheiro e pesquisador no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).
“Não acho que áreas verdes e vegetação sejam o de menos em uma cidade com menos de 5 m² de áreas verdes por habitante, e não gostei do projeto pelo seu ar de calçadão, com luminárias sem adequação ao espírito do centro histórico, e um piso monocromático, que parece uma passarela de proporções ituanas. Uma boa manutenção e ajustes no projeto original me pareciam de muito bom senso e responsabilidade com o gasto público em um lugar icônico de São Paulo”, completou.
Acima, foto de arquivo, tirada em 2006, mostra vista do vale do Anhangabaú; abaixo, vale em obras de readequação e revitalização
Clayton de Souza/Estadão Conteúdo/Arquivo e Van Campos/Fotoarena/Estadão Conteúdo
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By Midia ABC

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