Covid-19 afasta do trabalho pelo menos 254 profissionais da área da saúde em Presidente Prudente

A pandemia de Covid-19 foi declarada no dia 11 de março pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Antes disso, no dia 2 de março, a Secretaria Municipal de Saúde de Presidente Prudente informou que tinha dado início à investigação do primeiro caso suspeito de novo coronavírus no município. Mesmo tendo sido descartado posteriormente, os profissionais que atuam na saúde têm se dedicado ao combate a esta doença há quatro meses, seja na prevenção, na recuperação dos pacientes ou na manutenção das unidades de saúde. Apesar dos cuidados, muitos trabalhadores também foram afetados. Conforme levantamento do G1, foram pelo menos 254 afastamentos e 15 confirmações da doença entre funcionários da saúde. Até esta quarta-feira (8), a maior cidade do Oeste Paulista já contabilizou 992 confirmações de Covid-19, com 23 mortes.

O G1 solicitou informações para todos os hospitais do município, entre os da administração pública e os da iniciativa privada. Contudo, nem todos repassaram as informações pedidas.

Saúde municipal

Centro Municipal de Triagem de Síndrome Respiratória de Presidente Prudente — Foto: Marcos Sanches 1 de 5
Centro Municipal de Triagem de Síndrome Respiratória de Presidente Prudente — Foto: Marcos Sanches

Centro Municipal de Triagem de Síndrome Respiratória de Presidente Prudente — Foto: Marcos Sanches

Os dados mais expressivos repassados ao G1 são da Secretaria Municipal de Saúde. Até o dia 15 de junho, foram registrados 108 afastamentos e 12 casos confirmados. Desse total, dois trabalhadores precisaram ser hospitalizados e oito já estavam curados. Entre as funções mais afetadas, estão profissionais da enfermagem e da limpeza.

Questionado sobre as medidas adotadas para segurança dos servidores, o município informou que o Plano de Contingência Municipal para o combate ao coronavírus foi colocado em prática desde o dia 19 de março. A Secretaria Municipal de Saúde reforçou que foi feito também um manual de recomendação sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) aos servidores que atuam no atendimento aos pacientes suspeitos ou confirmados com a doença.

Ainda sobre as medidas, a Prefeitura disse que fez a implantação do Telessaúde em parceria com a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) e implantou o Centro de Triagem Covid-19, no dia 27 de abril, além da testagem rápida dos sintomáticos em hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e no Centro de Triagem.

Administração estadual

Hospital Regional de Presidente Prudente — Foto: HR/Divulgação 2 de 5
Hospital Regional de Presidente Prudente — Foto: HR/Divulgação

Hospital Regional de Presidente Prudente — Foto: HR/Divulgação

Sob responsabilidade da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, estão 2.425 profissionais, que atuam em diversas funções. De acordo com a pasta, até o final de junho, o Hospital Estadual de Presidente Prudente conta com 325 profissionais, no total. Destes, 63 chegaram a ser afastados temporariamente por suspeita ou confirmação. Já o Hospital Regional de Presidente Prudente possui 2.100 profissionais e, no mesmo período, foram 62 casos suspeitos ou confirmados.

O G1 solicitou os dados de casos suspeitos e confirmados separados, mas o pedido não foi atendido. A pasta informou também que ambas as unidades possuem estoques completos de Equipamentos de Proteção Individual, “garantindo proteção aos profissionais que estão na ‘linha de frente’ do combate à Covid-19”.

“Vale lembrar que a doença costuma afetar as pessoas infectadas por cerca de 14 dias e que esses profissionais contam com atendimento nas próprias unidades onde atuam ou em qualquer serviço do SUS [Sistema Único de Saúde]”, salientou a Secretaria da Saúde do Estado.

Hospital Estadual de Presidente Prudente — Foto: Wellington Roberto/G1 3 de 5
Hospital Estadual de Presidente Prudente — Foto: Wellington Roberto/G1

Hospital Estadual de Presidente Prudente — Foto: Wellington Roberto/G1

Hospital Regional do Câncer

O Hospital Regional do Câncer de Presidente Prudente (HRCPP) informou ao G1 que até o final de junho foram 21 afastamentos. Três profissionais testaram positivo para o novo coronavírus, sendo dois do setor de engenharia e um do monitoramento.

A unidade enfatizou que as medidas tomadas desde o início da pandemia foram: utilização de máscara por todos os colaboradores; treinamentos com técnicas de higienização e respaldo a dúvidas existentes; aumento dos pontos com álcool em gel nos setores; e informações sobre o vírus para conhecimento de todos.

A unidade conta com o total de 184 funcionários.

Hospital Regional do Câncer de Presidente Prudente — Foto: Gelson Netto/G1 4 de 5
Hospital Regional do Câncer de Presidente Prudente — Foto: Gelson Netto/G1

Hospital Regional do Câncer de Presidente Prudente — Foto: Gelson Netto/G1

‘Sou um sobrevivente’

Danilo Domingos dos Santos é auxiliar de enfermagem e foi diagnosticado com a Covid-19 em junho — Foto: Cedida 5 de 5
Danilo Domingos dos Santos é auxiliar de enfermagem e foi diagnosticado com a Covid-19 em junho — Foto: Cedida

Danilo Domingos dos Santos é auxiliar de enfermagem e foi diagnosticado com a Covid-19 em junho — Foto: Cedida

O auxiliar de enfermagem Danilo Domingos dos Santos, de 36 anos, atua na área há 15 anos desde quando começou a trabalhar no antigo Hospital Universitário (HU), que é o atual Hospital Regional (HR) de Presidente Prudente. É a primeira vez que ele enfrenta uma pandemia como profissional da linha de frente e como paciente. No dia 11 de junho, ele conta que começou a apresentar sintomas gripais.

“Geralmente são três dias de sintomas, mas no quarto dia eu vi que não estava passando. No quinto dia, meu corpo estava dolorido como se eu tivesse levado uma surra. Eu estava tomando antialérgico, remédio contra a gripe, me hidratando bastante, então, tinha alguma coisa diferente”, contou ao G1.

No dia 17, quando foi ao hospital, antes de iniciar o plantão, ele passou na sala destinada aos funcionários que apresentam algum sintoma da Covid-19.

“Até então, eu entrei na sala com sintomas gripais. Na minha cabeça, eu só ia entrar, fazer a ficha, ia ser avaliado pela médica e iria embora, ou seria liberado para trabalhar. Mas não foi muito bem o que aconteceu. No dia 17, eu entrei, fiz exames, colhi o swab [exame para detectar a Codiv-19], fiz uma gasometria, depois eu fiz uma tomografia. Por volta das 11h, a médica falou que tinha dado uma pequena alteração na tomografia e iria me internar. Naquele momento, a gente começa a lembrar das notícias que têm rolado pelo mundo, de pessoas próximas que já tiveram, passam mil coisas pela cabeça. Você vê a prova da sua fé. Meus amigos de serviço vieram, falaram comigo, que vai passar, que vai vencer, passavam mil coisas pela cabeça”, descreveu Santos.

No dia 18, ele foi liberado para continuar o tratamento em casa, em isolamento, e caso sentisse algum outro sintoma, principalmente falta de ar, que ele voltasse ao hospital.

“Eu me senti amparado, eu me senti psicologicamente amparado. Eu me sentia um sobrevivente. Eu achei que estava tudo perdido, mas era o começo de uma batalha, e eu venci. Cada oração, cada pessoa que mandou mensagem, pessoas que até não eram do meu círculo de amigos. Todos os dias tinham mais de dez mensagens de pessoas conhecidas e não próximas. Todo mundo falando que estava orando, que estava comigo”, destacou o auxiliar de enfermagem.

Santos pontuou que esse apoio o fortaleceu bastante e o ajudou a superar a doença, que não faz ideia de como pode ter contraído, já que ele usava os equipamentos de proteção.

“Não é fácil ficar isolado, saber que está com o vírus que tem levado muita gente. Infelizmente, o coronavírus tem levado muitas famílias. Hoje eu sou um sobrevivente, eu posso falar, orientar, ajudar de uma maneira quem está passando pelo que eu passei, que às vezes acha estar perdido ou muitas vezes acha que é o fim”, frisou.

Depois de passar pela fase final da quarentena, que foi de 21 dias, ele alerta para que as pessoas estejam atentas aos sintomas.

“A grande questão é conhecer o corpo e entender que o coronavírus é um vírus agressivo, entender que três dias são sintomas gripais. Se não passou, no quarto dia tem que aumentar a vigilância e no quinto dia, se não viu que passou, que não melhorou, tem que procurar uma unidade de saúde e ver o que está acontecendo. Não deixar para o final o que se pode fazer no começo”, orientou o auxiliar de enfermagem.

Santos segue ansioso para retornar ao Hospital Regional nesta quinta-feira (9).

“Vou voltar mais empenhado, pois sou um sobrevivente. E a prevenção continua”, finalizou ao G1.

CORONAVÍRUS

By Midia ABC

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