André Mezzete foi solto nesta quarta (2) após ser preso na sexta (28) suspeito de tentar roubar soldado à paisana e de folga na Zona Norte. Entregador nega crime. Vídeos mostram policial militar agredindo e xingando ele. Juíza soltou investigado por causa de informações conflitantes. Vídeo que circula nas redes sociais mostra PM agredindo motoboy em São Paulo
O motoboy que aparece em vídeos sendo agredido por um policial militar à paisana e de folga, durante uma suposta tentativa de roubo na semana passada, deixou a prisão na manhã desta quarta-feira (2) na Zona Leste de São Paulo.
André Andrade Mezzete saiu do Centro de Detenção Provisória (CDP), Belém, por volta das 9h30. Ele foi recebido pela namorada, irmã, uma amiga e seu advogado.
Ao falar com os jornalistas, André voltou a negar que tenha tentado roubar o soldado Felipe da Silva Joaquim, no ultimo dia 28 de agosto na Zona Norte. Disse ainda que foi vítima de racismo. O entregador é pardo.
Na terça-feira (1º), a Justiça decidiu soltar André, de 29 anos, para que ele responda em liberdade à acusação de que tentou roubar a moto de Felipe, de 30, no último dia 28 de agosto na Zona Norte.
A juíza Tania da Silva Amorim Fiuza, do Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo) do Tribunal de Justiça (TJ), analisou vídeos, gravados por moradores, que mostram o agente da Polícia Militar (PM) abordando o motoboy com violência e xingamentos na Rua Marco Rutini, no Tremembé.
Nas imagens, que circulam nas redes sociais, André nega que tenha tentado roubar Felipe, e alega que foi detido pelo policial porque fumava maconha. Ele trabalha com entregas por meio de aplicativo.
Irmã e namorada do motoboy aguardam saída dele do CDP Belém, na Zona Leste de São Paulo
Zelda Mello/TV Globo
Para a magistrada, as informações apresentadas pelo soldado no boletim de ocorrência registrado na delegacia são conflitantes e não justificam manter o motoboy preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) do bairro Belém.
“Desta forma, diante das informações conflitantes nos presentes autos, não é cabível a manutenção da prisão do averiguado, visto que há fundadas duvidas sobre a materialidade da suposta tentativa de roubo”, escreveu a juíza Tania na decisão.
O vídeo ainda mostra o soldado apontando uma arma para o rosto do motoboy, dando coronhadas na sua cabeça, o arrastando, chutando, ofendendo, e o ameaçando. As imagens repercutiram negativamente na Polícia Militar, que determinou o afastamento preventivo de Felipe para que a Corregedoria da PM apure sua conduta na esfera administrativa.
O advogado Paschoal Caruso acusa o policial militar por abuso de autoridade e falsa comunicação de crime. Para a defesa de André, ele foi vítima de racismo. O entregador aparece como pardo no registro policial.
O motoboy André Mazzete acusa soldado da PM de agredi-lo na Zona Norte de SP
Divulgação/Arquivo pessoal
O Ministério Público (MP) e a Secretaria da Segurança Pública (SSP) também analisam outros vídeos de abordagens feitas e gravadas pelo soldado Felipe durante seu trabalho na Ronda Ostensiva Com Motocicletas (Rocam) da PM.
O soldado participa de um canal nas redes sociais com mais de 300 mil inscritos, onde abordagens policiais são filmadas pelos próprios PMs. Segundo um especialista ouvido pela reportagem do SP1, policiais que filmam abordagens sem autorização da corporação e divulgam as imagens nas redes sociais podem responder por crime de invasão de privacidade.
PM e motoboy
O soldado escreveu na rede social que não agrediu o motoboy e só usou as técnicas de abordagem da PM
Reprodução/Redes sociais
A reportagem não conseguiu localizar o PM e nem sua defesa para comentarem o assunto. Numa rede social, Felipe chegou a negar que tenha agredido o motoboy.
“Agora a pessoa tenta me roubar e eu recebo isso? Agora me fala no vídeo onde eu agredi ele? Em todo vídeo eu segui nosso treinamento”, escreveu o policial no Instagram.
Peritos e especialista em segurança ouvidos pelo G1 divergem do soldado. Eles analisaram as imagens e apontaram ao menos oito falhas que podem ter sido cometidas pelo policial militar de folga durante abordagem.
Nas imagens é possível ver o policial apontar a arma em direção a cabeça de André e dizer “um tiro na sua cara”. O suspeito estava desarmado e rendido, dizendo que havia usado droga em frente sua motocicleta, depois de ter feito uma entrega.
André compete como lutador de jiu jitsu e trabalha como entregador para complementar a renda. Ele já tem uma passagem criminal anterior por receptação de carro irregular. Foi condenado por esse crime em 2013, chegando a cumprir a pena com medida restritiva.
O soldado acusou o motoboy de fingir que estava armado para tentar assalta-lo. Felipe falou à Polícia Civil que sacou a arma e se identificou como policial. E que os dois entraram em luta corporal, quando André tentou pegar a pistola dele. E que devido a isso os dois se machucaram. O motoboy tem um ferimento na cabeça.