Pesquisadores descobrem serpente típica da Mata Atlântica


A espécie, que não é peçonhenta, pertence a um gênero raro com somente dois representantes. O primeiro indivíduo foi capturado em 2008, em Santa Cruz do Espírito Santo (PB)
Gentil Filho/Arquivo Pessoal
A lista de espécies típicas da Mata Atlântica aumentou. O novo integrante pertence ao grupo dos répteis: é a serpente Caaeteboia gaeli, chamada popularmente de cobrinha-marrom-do-litoral. Ela foi descoberta e descrita cientificamente por pesquisadores da Universidade de São Paulo, Instituto Butantan, Universidade Federal da Paraíba e Universidade Estadual da Paraíba.
Da família Dipsadidae, a mais diversa da América do Sul, a espécie pertence a um gênero raro que, até então, era representado por uma única espécie. Foram anos de expedições, três capturas e muitos estudos para, enfim, comprovar a descoberta. “O primeiro exemplar foi capturado em 2008, em fragmentos florestais da Companhia São João, em Santa Cruz do Espírito Santo (PB). O segundo foi encontrado dez anos depois, próximo à primeira localidade. Já o terceiro exemplar, que foi somente fotografado, estava em Saloá (PE). A princípio não sabíamos que se tratava de uma espécie ainda não descrita, a descoberta foi feita após análises comparativas com exemplares da Caaeteboia amarali”, explica a bióloga especialista em herpetologia, Giovanna Montingelli.
Estudos em campo e em laboratório permitiram a descoberta da serpente
Samuel Cardoso/Arquivo Pessoal
A pesquisadora destaca a importância de levantamentos de fauna – devidamente autorizados por meio de licenças do IBAMA e do ICMBio; que, entre outras coisas, promovem descobertas como essa. “Essa prática é extremamente importante para revelar a diversidade presente em um determinado local ou bioma, pois promove conhecimento sobre a fauna local, fornece novas informações sobre espécies já descritas e evidências para o descobrimento de novas”, diz.
Os levantamentos fazem parte de projetos científicos amparados por órgãos de fomento que financiam pesquisas, importantes para tomadas de decisão voltadas à conservação. “Sem a captura e estudo desses animais não seria possível, por exemplo, realizar análises refinadas de estruturas externas e internas do organismo, até mesmo do DNA. Esses dados, associados a um conjunto de informações de outras espécies da fauna e da flora, propiciam a elaboração de práticas de conservação como a detecção e implementação de Unidades de Conservação, especialmente em ambientes impactados pela devastação e fragmentação de áreas”, completa a pesquisadora.
A serpente, popularmente chamada de cobrinha-marrom-do-litoral, não é agressiva
Giovanna Montingelli/Arquivo Pessoal
Exclusiva e não peçonhenta
As análises de apenas três indivíduos da nova espécie não são suficientes para detectar todas as características, hábitos e comportamentos da serpente. “No entanto, já sabemos que a C. gaeli apresenta distribuição mais restrita que a serpente C. amarali, habitando somente as Florestas de Tabuleiro e áreas de floresta atlântica dos estados da Paraíba e Pernambuco”, revela.
A descrição dessa espécie contribui para o conhecimento da diversidade de serpentes da Mata Atlântica e reforça a importância da conservação de pequenos remanescentes de floresta do nordeste brasileiro que, embora possua uma alta diversidade, é ainda pouco conhecido
Fotografias da nova serpente (A e B) comparada a, até então, única espécie representante do gênero
Giovanna Montingelli/Arquivo Pessoal
Pequena, com aproximadamente 50 centímetros, a espécie não é peçonhenta e nem agressiva. “É importante ressaltar que essas características não são sinônimas, afinal, existem serpentes que não são venenosas, mas são agressivas”, alerta Giovanna, que destaca ainda a importância da divulgação científica.
“Estamos em um momento importante para mostrar que a nossa ciência é feita por um conjunto de pessoas dedicadas e comprometidas, que empenham muitas horas de trabalho de campo e laboratório a fim de descrever a diversidade biológica do País. Se cada um puder divulgar um pouco do trabalho que realiza para a população leiga no assunto, temos a chance de evidenciar o papel das pesquisas para conservar o que é nosso”, finaliza.
Estudos em campo para levantamento de fauna são parte importante de projetos de conservação
Giovanna Montingelli/Arquivo Pessoal

By Midia ABC

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